02 agosto 2009

Virgílio não segue sua própria ética, diz Salgado
Marcela Rocha
O presidente da República já tirou o corpo fora, disse que a crise no Senado não é problema dele. Enquanto isto, os senadores se digladiam. Entre denúncias e representações, os líderes Arthur Virgílio (PSDB-AM) e Renan Calheiros (PMDB-AL) trocam farpas e ameaças. Para o senador da tropa de Renan, Wellington Salgado (PMDB-MG), o tucano estabeleceu um padrão ético que "nem ele mesmo consegue manter".
Em entrevista a Terra Magazine, o peemedebista diz discordar dos padrões éticos colocados por Virgílio. Afinal, para ele, "o que político sempre fez foi conseguir emprego para alguém, encaixar de alguma maneira".

O líder do PSDB é acusado de empregar um assessor que, mesmo morando na Espanha, era pago pelo Senado. Outra acusação diz respeito a um empréstimo de US$ 10 mil do ex-diretor geral Agaciel Maia para pagar uma conta de hotel em 2003, em Paris. O tucano também teria usado dinheiro do Senado para pagar R$ 723 mil no tratamento de saúde da mãe dele. O limite permitido é de R$ 30 mil.
Wellington Salgado confessa que em um aspecto concorda com Virgílio: "Com relação à mãe dele, eu teria feito o mesmo. Afinal, mãe é mãe". Explica que o intuito das atitudes de "seu líder" Renan é mostrar que "o padrão ético que Virgílio está criando nem ele mesmo se enquadra. Ele e mais alguns, melhor dizendo". E passa seu recado aos demais: "Primeiramente estamos falando dele".
O embate PMDB-PSDB, mais precisamente Renan-Virgílio, se acirrou quando, na semana passada, Calheiros ligou para o tucano pedindo para desistir das suas denúncias ou daria sequência a sua proposta de representar contra ele no Conselho. Virgílio manteve e Salgado desmente que Renan tenha feito uma ameaça. "Arthur é um homem valente demais, ninguém tem coragem de ameaçá-lo porque ele é muito valente", ironiza.
Entre mortos e feridos no Senado, Salgado acredita que morrerão todos nessa troca de chumbo. "Eu acho que este será o Senado com a maior quantidade de suplentes da história", diz para depois acrescentar que se o padrão de ética proposto por Virgílio for seguido, "vai todo mundo para o Conselho de Ética e vai ter cassação pra tudo quanto é lado".
Pessimista, o peemedebista tenta justificar muitas da reações parlamentares: "só vai piorar daqui para frente e isto acontece porque temos um PSDB que não pode bater no Lula, pois ele tem 80% de aprovação", diz.
Leia a íntegra da entrevista:
Terra Magazine - Ontem que o presidente Lula acabou rifando o presidente da Casa, José Sarney?
Wellington Salgado - O presidente Lula já deu seu posicionamento, prefere o Sarney na presidência do Senado. A declaração de ontem foi como chefe do Poder Executivo, que não pode interferir em assuntos do Senado. Primeiro deu seu posicionamento pessoal e agora diz que não tem nada a ver. Ele está correto, ele não tem porque ficar a toda hora se intrometendo. O Lula colocou uma opinião pessoal de que para a governabilidade interessa o Sarney na presidência.

Mas o senhor não acredita que ele acabou colocando o Sarney na berlinda?
Não vejo assim de maneira alguma e até mesmo porque a política acontece em vários locais, nos bastidores, nas conversas pessoais e na imprensa. Fora da imprensa não há essa interpretação sobre a fala do presidente. Lula é a favor de Sarney, mas o presidente da República sabe que não deve intervir em assuntos do Senado.
O senador Arthur Virgílio tem feito acusações muito sérias à imprensa e segue em sua empreitada de ataques formais e informais a Sarney e Renan.
O senhor acredita que isto já foi para o lado pessoal?
Como o senhor avalia isso?
Veja bem, o senador Arthur Virgílio definiu um padrão de qualidade ética ao fazer as representações contra Sarney. Só que nem ele mesmo se enquadra no padrão por ele criado. Isto é o que meu líder (Renan Calheiros) tem mostrado: 'olha meu amigo, este padrão que você criou, nem você se enquadra, você tem uma série de problemas'. Aí o Arthur fala que o Renan o ameaçou, isto nunca aconteceria, Arthur é um homem valente demais, ninguém tem coragem de ameaçá-lo porque ele é muito valente.
Isto que estamos vendo no Senado é uma guerra sem quartel, onde tudo mundo vai entregar os podres de todo mundo?
Pera aí, você acha que o meu partido vai apanhar o tempo inteiro? Meu partido tem paciência também. Meu partido historicamente não é covarde nem se submete, mas não vai agora subir a tribuna e criar um padrão ético, falar que não está enquadrado. Pelo amor de Deus. O que o meu partido está fazendo é dizer que este padrão ético que Virgílio está criando nem ele mesmo se enquadra. Ele e mais alguns, melhor dizendo. Primeiramente estamos falando dele...
Entre mortos e feridos no Senado, morrerão todos nessa troca de chumbo?
Eu acho que este será o Senado com a maior quantidade de suplentes da história. Se for nessa linha, vai ser o Senado dos suplentes porque este padrão de ética é fora da realidade.
O senhor fala, então, que será todo mundo cassado?
Vai todo mundo para o Conselho de Ética e vai ter cassação pra tudo quanto é lado.
Fora? Por quê? Pedir emprego é uma coisa que fere a ética? Não. Pelo amor de Deus, o que político sempre fez foi conseguir emprego para alguém, encaixar de alguma maneira.
O senhor acha que Arthur Virgílio está errado em apontar este tipo de coisa como violadoras da ética?
Não se pode pegar dinheiro e depois não pagar. Não se pode pagar com dinheiro do Senado pra alguém que está no exterior. Com relação à mãe dele, eu teria feito o mesmo. Afinal, mãe é mãe. Tudo o que Arthur praticou com relação à mãe dele eu praticaria igual. Agora, não pode é falar que não é pecador. Porque é pecador sim. Se o padrão ético do Senado não está de acordo com o da sociedade, tem que mudar.
Como? Mudando desde que todo mundo assuma suas responsabilidades e faça as mudanças. Agora, não pode encontrar o boi de piranha. Com isso eu não concordo. Pegar o presidente Sarney e jogar uma série de responsabilidades em cima dele. Isto é um absurdo. Não acho certo cobrar mudanças e acusar uma única pessoa. Vou morrer discordando disto.
O senhor acha que é possível mudar o perfil de briga pré-eleitoral no Senado?
O que seria necessário?
Não e só vai piorar daqui para frente. Isto acontece porque temos um PSDB que não pode bater no Lula, pois ele tem 80% de aprovação. Eles não têm um discurso forte, o Brasil melhorou e o que sobra para o PSDB? Tentar acusar companheiros pra ver se sai desta confusão melhor do que entrou.
Terra Magazine