20 junho 2009

BERLUSCONI E SARNEY
Laerte Braga
O jornal espanhol EL PAÍS revela que o primeiro-ministro italiano Sílvio Berlusconi contratava prostitutas para festas num dos palácios do governo. Uma das prostitutas contratadas reclama que o pagamento prometido era de dois mil e quinhentos e recebeu apenas mil euros. Foi mais além. Que entre os folguedos um deles consistia em ficar nua diante da foto da mulher do primeiro ministro.

Berlusconi tem pelo menos um grande amigo no Brasil. Gilmar Mendes. Não deve ser coincidência que Daniel Dantas tenha negócios na Itália, que Cacciola por lá tenha estado em vilegiatura concedida por Marco Aurélio Melo (perdeu os privilégios provisoriamente e está em descanso na carceragem da Policia Federal). Os três, Berlusconi, Dantas e Cacciola são banqueiros e Gilmar recebe banqueiros pelos fundos através de embaixadores.

Cesare Battisti, no final da historia, é o culpado de tudo isso.

E José Sarney é o presidente do Senado brasileiro. Não deve ser coincidência também que o senado romano tenha tido entre os pares o preferido do imperador Calígula, seu cavalo Incitatus.

É tudo uma questão de tempo e espaço.

Brasileiros, de um modo geral, temos a sensação que a independência do Brasil foi só aquele negócio de D. Pedro que viria a ser o primeiro, sacar da espada depois de ler uma carta de José Bonifácio e gritar “independência ou morte”. Feito isso os portugueses foram embora, as coisas se ajustaram para a construção de um grande império e tudo terminou num golpe de estado de um velho marechal que chamaram de proclamação da República. E como dizia Sérgio Porto, “pedra que rola pela ladeira, vida que vai...”

A imagem que ficou de D. Pedro II foi a de ter morrido com a cabeça repousada sobre um travesseiro recheado de terra do Brasil.

Onde começa a esculhambação eu não sei. Com certeza não foi na Babilônia.

O Brasil se assemelha àquele sujeito imenso que em minha época de estudante era apelidado de “Fenemê”, em alusão aos caminhões FNM (Fábrica Nacional de Motores) absolutos e imbatíveis em nossas estradas. O “Fenemê”, falo do sujeito, resfolegava e carregava às costas todos os berlusconis e sarneys em todos os tempos e ainda achava tempo para referir-se ao ilibado presidente do nosso Senado como o filho do Sir Ney. Isso enquanto tomava uma xícara de café na cozinha da casa grande, antes de voltar à senzala.

Senzalas hoje ganharam novas versões e novos contornos. Via de regra chamam-se shoppings, são sinal de progresso e garantia de consumo. O monte de Homer Simpson extasiado diante do fio de pano vendido a trocentos reais no milagre do crédito e os formigueiros cercados de perigosos moradores das adjacências. Adjacências, aliás, que o governador Sérgio Cabral já está cuidando de manter à distância através de muros que garantam o cheiro avon, aquele que bate à sua porta.

E toda uma estrutura de Pastinhas subindo, correndo e descendo, enquanto vão sendo encaçapados pios e obedientes cidadãos na consciência que esse é o mundo real.

O distinto ou a distinta tem uma roseira à porta de sua casa. Abre a janela enxerga a roseira, mas mergulha na fumaça tóxica que nem sempre está no cigarro. Costuma estar na marcha aparentemente desordenada em direção ao cumprimento do dever.

Há anos atrás, muitos, ainda tinha aquele negócio de ganhar um relógio Ômega, de ouro e alta precisão ao se aposentar. “Lembrança de Antônio Ermírio de Moraes ao Mane/Maria que doou seu sangue por trinta e cinco anos para o progresso”. Era motivo de orgulho familiar, honra, tudo pelo bem dos Ermírio de Moraes.

É preciso um resgate com a nossa história. O fato de D. João VI ter advertido o filho Pedro para colocar a coroa na cabeça antes que algum aventureiro o fizesse foi só a percepção de uma raposa pré-PSD e uma baita jogada política para favorecer o outro filho, favorito de Dona Carlota Joaquina.

Em cima dessas estruturas, com um ou outro laivo histórico, digamos assim, de lucidez se construiu a República dos decretos secretos. Na ditadura serviam para, entre outras coisas, compra de material de tortura direto na matriz, os EUA. Ou para remunerar especialistas como Dan Mitrione (professor de Brilhante Ulstra e outros menos votados).

Nos tempos atuais para nomear genros e mães de genros.

No Kremlin, no tempo de Stalin, era comum que as fotografias fossem retocadas e quando isso acontecia uma pessoa sumia da foto original. Sumiram muitas. Nem o fato do pintor Pablo Picasso ter sido do partido comunista espanhol fez com que Stalin admitisse a pintura do notável artista. Não condizia, segundo Stalin, com a realidade ou o realismo socialista. Na prática Stalin não conseguia era entender patavina do que via e era mais cômodo proibir.

Se alguém apresentar uma PEC – Projeto de Emenda Constitucional – para fazer desaparecer do mapa o governo Sarney, os romances de Sarney e o seu legado – putz! Que avacalhação. – vai estar absolvido pela História. É diferente de Stalin. É questão de vergonha na cara. Vergonha nacional, na cara nacional.

Imagine daqui uns mil anos quando os arqueólogos de 3009 forem escavar o Maranhão e encontrarem rua não sei o que Sarney, escola não sei o que Sarney, restaurante não sei o que Sarney, matriz São Sarney a dúvida que isso vai gerar.

Quem foi esse Sarney? Um deus dos primitivos habitantes das estranhas senzalas que chamavam de shopping? Um imperador? Um enviado dos céus? Um extra-terrestre de uma galáxia distante que veio à Terra construir uma pirâmide secreta?

E, pelo bem geral da Nação, não guardem nenhum jornal com as declarações de Lula sobre a história de Sarney e sobre não ser o Sarney um homem comum. Claro que não é. Nada de colocar edições de jornais e revistas que contemplem esse regalo presidencial, tudo de olho em 2010.

O choque vai ser maior quando depois de longas e exaustivas investigações esses arqueólogos conseguirem descobrir que o JORNAL NACIONAL era pura mentira e os incautos escravos transformados em consumidores, ou bolas para as caçapas em mesas de sinuca nas fotos montagens da realidade irreal – tem que faça e quem deixe fazer – acreditavam e adoravam um deus chamado William Bonner.

Sarney é só um bobo da corte que como todo bobo de toda corte sabia e ele sabe que precisa de toda a esperteza do mundo para ludibriar tudo e todos à sua volta, usar “grecin” para manter os cabelos na cor natural e substituiu as fotos no modelo stalinista, pelos decretos secretos, de grande utilidade para a ditadura militar à qual serviu servilmente aí como bobo mesmo. Com gorro, guizo e tudo o mais.

E pasmem-se, vai haver tese de mestrado, doutorado o diabo para decifrar o real significado de ABL – Academia Brasileira de Letras –, suas funções, a que se propunha e o que lá fazia o tal José Sarney, filho do Sir Ney.

E como em todas as investigações arqueológicas, ou quase todas, dúvidas persistirão.

Que nem caixa preta de avião quando cai. Tem mil pareceres diferentes. Exceto para VEJA, onde o culpado é sempre o piloto.

Quando forem guardar a caixa com as pesquisas sobre Sarney vão colocá-la ao lado da de Berlusconi, no item situações ridículas dos primitivos habitantes do século XXI. E uma baita interrogação – terá tido razão o embaixador que disse a De Gaulle que o Brasil não era um País sério?

Sei lá, só sei que quando Charles André Joseph Marie De Gaulle veio visitar o Brasil foi necessário arrumar uma cama extra para o presidente francês, pois o dito media mais que dois metros de altura.

E arrumaram.

No caso de Sarney é diferente, preside um circo, onde poucos se salvam.

No fundo pior mesmo foi a moça na Itália contratada por dois mil e quinhentos euros e que só recebeu mil e ainda foi obrigada a ficar nua frente à foto da mulher de outra variedade de Sarney. Sílvio Berlusconi. Outro bobo esperto.

A moça, está no prejuízo até hoje e não tem nem como cobrar juros bancários do primeiro-ministro banqueiro, a não ser que consiga convencer Gilmar Mendes a receber o embaixador pela porta dos fundos e acertarem um acordo em nome do patriotismo e contra o terrorismo.

Como diz Millôr, Sarney acha que a imprensa só publica “coisas impublicáveis”. Sarney por exemplo.