30 março 2009


VÃO PARA O QUINTO DOS INFERNOS
A legalização do aborto – que daria direito, principalmente às mulheres pobres, de decidir se querem ou se podem levar adiante uma gravidez indesejada, e fazer uso, em caso de aborto, de um sistema de saúde público, confiável, de qualidade, que não põe a sua vida em risco –, é condenada pela Igreja e por parte da sociedade mais abastada. A Igreja e essa parte da sociedade são contra a legalização do aborto. Sob o manto da hipocrisia, dizem que não há mulheres fazendo uso de métodos abortivos que põem em risco a sua vida, usando medicações de uso hospitalar indevidamente, inserindo objetos estranhos no colo do útero, recorrendo a clinicas de parteiras e médicos sem a mínima qualificação. Dizem que não existem milhares de mulheres pobres morrendo por recorrer a esses métodos terríveis para promover o aborto.

Os hipócritas comportam-se como se a Igreja e a parte da sociedade que é contra a legalização do aborto para mulheres pobres acolhessem essas gestantes pobres – vítimas de uma gravidez indesejada ou de estupro –, e lhes garantissem uma gestação assistida por excelentes médicos e hospitais, lhes garantissem moradia decente, ajuda psicológica até o nascimento da criança e recursos financeiros para criá-la depois.

Os hipócritas não enxergam as crianças abandonadas no Brasil. Crianças jogadas no lixo, nos banheiros públicos, abandonadas nas ruas, no meio do mato, jogadas nos rios. Não enxergam as crianças abandonadas nos redutos das drogas, fazendo uso de drogas, sendo estupradas, passando frio e fome, sendo usada por adultos para pedir esmolas nos semáforos. A Igreja e a parte da sociedade contra a legalização do aborto age como se eles estivessem dispostos a acolher essas crianças e lhes dar um lar, carinho, estudo, saúde, alimentação, provendo a criança de tudo que ela necessita para uma vida digna.

Para os hipócritas, as mulheres pobres não podem decidir o que é melhor para elas. Que direito têm as mulheres pobres sobre o seu corpo? Que direito têm as mulheres pobres de decidir se desejam ou não levar adiante uma gravidez indesejada?
Para os hipócritas, as mulheres pobres têm que seguir as normas da Igreja, o que está na bíblia, "crescei e multiplicai-vos", mesmo que não tenham mínimas condições por motivos financeiros, problemas familiares, por serem ainda crianças vitimas de estupro, ou uma adolescentes.

Esse direito de escolha não é para mulheres pobres, é privilégio só das ricas. As mulheres ricas pagam os melhores médicos, as melhores clinicas, fazem o aborto sem riscos, tudo no maior sigilo. E depois vão para a Igreja como católicas fervorosas, e lá se juntam, hipócritas, aos que condenam a legalização do aborto para as mulheres pobres. Querem saber? Vão ser hipócritas assim no quinto dos infernos.
Jussara Seixas