Camargo Corrêa: gravações sugerem distribuição de caixa dois às vésperas das eleições em SP
O Globo
SÃO PAULO - Conversas telefônicas interceptadas com a autorização da Justiça mostram que os diretores da empreiteira Camargo Corrêa distribuíram dinheiro "por fora" para abastecer campanhas de candidatos até dias antes da eleição municipal do ano passado. Os diálogos revelam tratativas para que os recursos não contabilizados chegassem às mãos de pessoas de diferentes campanhas.
Na operação Castelo de Areia, deflagrada na quarta-feira, a Polícia Federal (PF) apreendeu uma lista de nomes de políticos e servidores públicos ao lado de valores que teriam sido doados pela empreiteira. A PF investiga se as doações foram feitas em troca de favorecimento em obras. A maioria das doações gira em torno de R$ 100 mil, e a polícia estima que pelo menos metade dos R$ 30 milhões que teriam sido desviados pela empreiteira em superfaturamento de obras abasteceu campanhas.
Dez pessoas foram presas, sendo quatro executivos e duas secretárias da empreiteira e mais quatro doleiros. Todos são suspeitos de terem praticada remessa ilegal de recursos para o exterior, lavagem de dinheiro e superfaturamento de obras públicas. Este último crime serviria para que o grupo conseguisse recursos para abastecer campanhas eleitorais.
Num diálogo de 23 de setembro de 2008 - 12 dias antes do primeiro turno - entre o diretor Pietro Giavina Bianchi, preso pela PF, e um homem chamado Marcelo, ficou claro que muitas das negociações ultrapassavam os limites legais. Segundo relatório da Justiça paulista, o seguinte diálogo aconteceu às 10h19:
Marcelo: "Eram coisas para acontecerem ontem".
Pietro: "Sim, mas o que é, campanha política?".
Marcelo: "É"
Pietro: "Por dentro?".
Marcelo: "Não".
O MPF não revelou a identidade de Marcelo, mas suspeita que se trata de um colaborador para a campanha política de um candidato a prefeitura de São Paulo. Uma semana antes, o mesmo diretor da empreiteira, em conversa com Fernando Botelho, vice-presidente da Camargo Corrêa, trata do repasse de recursos a políticos de Brasília, por intermédio do presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf. Botelho é também vice-presidente da entidade.
Ao ser informado que o dinheiro "foi passado lá pro pessoal de Brasília", Botelho procura saber se foi feito diretamente de São Paulo. Pietro é claro: "Foi em Brasília que fizeram a divisão".
Em seguida, o vice-presidente da Camargo Corrêa faz a seguinte cobrança: "Eu falei agora com o Paulo Skaf e ele falou que (o repasse) não foi feito ainda".
O presidente da Fiesp, em nota oficial, negou uma relação com o esquema, mas disse que a federação promove relações entre empresas e partidos. "No exercício da missão institucional de defender os interesses da produção, em especial, e da sociedade, em geral, a Fiesp, que tem mantido um transparente diálogo com parlamentares de todas as correntes ideológicas, não está impedida de - num ato legal e legítimo -, observadas, rigorosamente, todas as exigências e formalidades jurídicas, promover relações institucionais entre empresas e partidos políticos".
Políticos de pelo menos sete partidos - PSDB, DEM, PMDB, PDT, PPS , PSB e PP - teriam sido beneficiados com o esquema. A direção de todos os partidos nega ilegalidades.
Um advogado do PPS esteve sexta-feira na 6 ªVara Federal Criminal para apresentar defesa ao juiz Fausto De Sanctis, responsável pelos pedidos de prisão, e também para ter acesso aos autos. Ainda nos diálogos interceptados, os senadores Agripino Maia (DEM-RN) e Flexa Ribeiro (PSDB-PA) também são citados. Os dois negam ter recebido recursos ilegais da empreiteira. A Justiça ainda detectou uma conversa entre o diretor da empreiteira, Fernando Dias Gomes, também preso na operação "Castelo de Areia", e Pietro. No diálogo, Dias Gomes diz ter ligado em nome do deputado federal José Carlos Aleluia (DEM-BA), que queria "saber se foi pago alguma coisa no passado". A assessoria do deputado diz que ele não recebeu qualquer tipo de doação que não esteja contabilizada oficialmente.
Ainda nesta conversa, os dois falam sobre uma lista com os nomes de todos os partidos e políticos que teriam sido beneficiados com dinheiro da empreiteira, legal e ilegalmente.
Pietro: "Tem aquela pasta das eleições"
Gomes: "Ah, tá bom"
Pietro: "E lá tem todos os caras que foram pagos".
Gomes: "Eu procuro lá, então"
Pietro: "A relação, inclusive a oficial, colaboração oficial"
Gomes: "Tem as duas, né?"
Durante as buscas e apreensões, a Polícia Federal encontrou uma lista com os nomes de políticos e funcionários públicos que teriam sido beneficiados com dinheiro da Camargo Corrêa. A planilha teria informações sobre os repasses registrados na Justiça eleitoral e o "por fora". A maioria das doações seria de R$ 100 mil.
O Globo
SÃO PAULO - Conversas telefônicas interceptadas com a autorização da Justiça mostram que os diretores da empreiteira Camargo Corrêa distribuíram dinheiro "por fora" para abastecer campanhas de candidatos até dias antes da eleição municipal do ano passado. Os diálogos revelam tratativas para que os recursos não contabilizados chegassem às mãos de pessoas de diferentes campanhas.
Na operação Castelo de Areia, deflagrada na quarta-feira, a Polícia Federal (PF) apreendeu uma lista de nomes de políticos e servidores públicos ao lado de valores que teriam sido doados pela empreiteira. A PF investiga se as doações foram feitas em troca de favorecimento em obras. A maioria das doações gira em torno de R$ 100 mil, e a polícia estima que pelo menos metade dos R$ 30 milhões que teriam sido desviados pela empreiteira em superfaturamento de obras abasteceu campanhas.
Dez pessoas foram presas, sendo quatro executivos e duas secretárias da empreiteira e mais quatro doleiros. Todos são suspeitos de terem praticada remessa ilegal de recursos para o exterior, lavagem de dinheiro e superfaturamento de obras públicas. Este último crime serviria para que o grupo conseguisse recursos para abastecer campanhas eleitorais.
Num diálogo de 23 de setembro de 2008 - 12 dias antes do primeiro turno - entre o diretor Pietro Giavina Bianchi, preso pela PF, e um homem chamado Marcelo, ficou claro que muitas das negociações ultrapassavam os limites legais. Segundo relatório da Justiça paulista, o seguinte diálogo aconteceu às 10h19:
Marcelo: "Eram coisas para acontecerem ontem".
Pietro: "Sim, mas o que é, campanha política?".
Marcelo: "É"
Pietro: "Por dentro?".
Marcelo: "Não".
O MPF não revelou a identidade de Marcelo, mas suspeita que se trata de um colaborador para a campanha política de um candidato a prefeitura de São Paulo. Uma semana antes, o mesmo diretor da empreiteira, em conversa com Fernando Botelho, vice-presidente da Camargo Corrêa, trata do repasse de recursos a políticos de Brasília, por intermédio do presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf. Botelho é também vice-presidente da entidade.
Ao ser informado que o dinheiro "foi passado lá pro pessoal de Brasília", Botelho procura saber se foi feito diretamente de São Paulo. Pietro é claro: "Foi em Brasília que fizeram a divisão".
Em seguida, o vice-presidente da Camargo Corrêa faz a seguinte cobrança: "Eu falei agora com o Paulo Skaf e ele falou que (o repasse) não foi feito ainda".
O presidente da Fiesp, em nota oficial, negou uma relação com o esquema, mas disse que a federação promove relações entre empresas e partidos. "No exercício da missão institucional de defender os interesses da produção, em especial, e da sociedade, em geral, a Fiesp, que tem mantido um transparente diálogo com parlamentares de todas as correntes ideológicas, não está impedida de - num ato legal e legítimo -, observadas, rigorosamente, todas as exigências e formalidades jurídicas, promover relações institucionais entre empresas e partidos políticos".
Políticos de pelo menos sete partidos - PSDB, DEM, PMDB, PDT, PPS , PSB e PP - teriam sido beneficiados com o esquema. A direção de todos os partidos nega ilegalidades.
Um advogado do PPS esteve sexta-feira na 6 ªVara Federal Criminal para apresentar defesa ao juiz Fausto De Sanctis, responsável pelos pedidos de prisão, e também para ter acesso aos autos. Ainda nos diálogos interceptados, os senadores Agripino Maia (DEM-RN) e Flexa Ribeiro (PSDB-PA) também são citados. Os dois negam ter recebido recursos ilegais da empreiteira. A Justiça ainda detectou uma conversa entre o diretor da empreiteira, Fernando Dias Gomes, também preso na operação "Castelo de Areia", e Pietro. No diálogo, Dias Gomes diz ter ligado em nome do deputado federal José Carlos Aleluia (DEM-BA), que queria "saber se foi pago alguma coisa no passado". A assessoria do deputado diz que ele não recebeu qualquer tipo de doação que não esteja contabilizada oficialmente.
Ainda nesta conversa, os dois falam sobre uma lista com os nomes de todos os partidos e políticos que teriam sido beneficiados com dinheiro da empreiteira, legal e ilegalmente.
Pietro: "Tem aquela pasta das eleições"
Gomes: "Ah, tá bom"
Pietro: "E lá tem todos os caras que foram pagos".
Gomes: "Eu procuro lá, então"
Pietro: "A relação, inclusive a oficial, colaboração oficial"
Gomes: "Tem as duas, né?"
Durante as buscas e apreensões, a Polícia Federal encontrou uma lista com os nomes de políticos e funcionários públicos que teriam sido beneficiados com dinheiro da Camargo Corrêa. A planilha teria informações sobre os repasses registrados na Justiça eleitoral e o "por fora". A maioria das doações seria de R$ 100 mil.
Na coluna de Mônica Bergamo na Folha de São Paulo, ela disse que havia um "influente político de SP na lista" Diante dessas conversas reveladas pelo Globo, o político é: Kassab do DEM