20 agosto 2008

Lacerda vai à CPI desfazer articulações de Dantas
Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
O diretor-geral da Abin, Paulo Lacerda, depõe nesta quarta-feira na CPI dos Grampos com o objetivo de desmontar as articulações do banqueiro Daniel Dantas e defender-se das acusações da mídia

Os intestinos do Brasil continuam funcionando.
A mais recente cartada do banqueiro Daniel Dantas foi envolver o diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Paulo Lacerda, nas suas acusações. Disse o banqueiro que a Operação Satiagraha foi uma "retaliação" à divulgação de um suposto dossiê de contas de Lacerda no exterior.
Mas o ex-diretor-geral da Polícia Federal não morderá a isca. Terra Magazine apurou que a defesa de Lacerda não se baseará nas acusações de Daniel Dantas - o que fortaleceria a idéia do banqueiro de que a briga é pessoal. O foco será outro.
A disposição do chefe da Abin em depor na CPI dos Grampos vem de antes do depoimento do banqueiro preso no último dia 8 de julho pela PF. E terá o foco na mídia. Lacerda "vai defender a honra dele", diz um próximo. Quer esclarecer denúncias que surgiram na imprensa de que seria a Abin a responsável por um grampo no Supremo Tribunal Federal, que, segundo varredura do próprio órgão, jamais existiu.
Paulo Lacerda é conhecido entre seus colegas como um sujeito sereno e tranqüilo. Dele mesmo partiu a iniciativa de comparecer à CPI dos Grampos; dele virá a reclamação de que a cobertura da imprensa para determinados casos beira o "limite do absurdo".
Daniel Dantas tem manobrado, é sabido e confirmado por fontes ouvidas por Terra Magazine no Senado e na Polícia Federal, para passar de acusado a acusador. Essa reação, dizem até, demonstra a eficiência da Operação Satiagraha. O banqueiro é acusado, entre outros crimes, de formação de quadrilha, gestão fraudulenta, evasão de divisas, lavagem de dinheiro, sonegação fiscal.
Joga pedra na Geni!
A outra estratégia do diretor-geral da Abin, Paulo Lacerda, ao falar para deputados na tarde desta quarta-feira, 20, consistirá na defesa de sua agência. Entende a cúpula do órgão que a Abin é uma espécie de Geni, mas sem a simpatia dada por Chico Buarque à sua personagem.
"Um poço de bondade", alvo de pedradas e excrementos na composição do De Holanda, a Abin recebe o mesmo tratamento da imprensa brasileira e de parte da sociedade, avaliam servidores. Já Lacerda entende que um país como o Brasil, que pretende ter mais expressão na esfera mundial, com novas reservas de petróleo descobertas em território brasileiro, precisa de um setor de inteligência cada vez mais forte e respeitado.
Conta a favor de Lacerda nesse argumento o decreto número 6.540, publicado nesta mesmíssima quarta-feira 20, no Diário Oficial da União. Leva a assinatura do presidente Lula, do ministro da Defesa, Nelson Jobim, do da Justiça, Tarso Genro, do chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Jorge Armando Felix, e do secretário-geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães Neto.
O decreto dispõe sobre a organização e o funcionamento do Sistema Brasileiro de Inteligência. Determina: "A Abin poderá manter, em caráter permanente, representantes dos órgãos componentes do Sistema Brasileiro de Inteligência no Departamento de Integração do Sistema Brasileiro de Inteligência".
O Departamento em questão integra todos os setores da inteligência brasileira, como órgãos da Polícia Federal, do ministério da Defesa e do Estado-Maior. Funciona em esquema de plantão, ininterruptamente, para qualquer eventualidade.
O presidente Lula, através desse decreto, coloca um ponto final na tese de Daniel Dantas de que a participação da Abin na Satiagraha foi ilegal ou clandestina. Claramente, o decreto garante que a agência é parte do órgão que agrega todos os setores de inteligência brasileiros.
Lacerda vai até a CPI com uma idéia na cabeça: botar as coisas nos eixos e mostrar quem é acusado e quem é acusador. Mesmo que as forças dantescas continuem agindo.
http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI3117292-EI6578,00.html