Lula usa pacote para frear alta dos juros
KENNEDY ALENCAR
KENNEDY ALENCAR
Colunista da Folha Online
Além da óbvia necessidade de compensar a perda de R$ 38 bilhões, uma bolada respeitável no Orçamento de qualquer país do mundo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou o "pacote da CPMF" para frear uma articulação que ganhava força no Banco Central: elevação da taxa taxa básica de juros, a Selic.
No final de 2007, houve recrudescimento da crônica tensão entre a Fazenda e o BC. A primeira, chefiada por Guido Mantega, preocupava-se menos com o comportamento futuro da inflação. Já a turma de Henrique Meirelles começava a falar em novo endurecimento da política monetária com medo de forte reajuste nos preços em 2008.
Lula não gostou da conversa. Aumento de juros poderia quebrar expectativas positivas do empresariado, reduzir investimento e diminuir a meta de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) na casa dos 5% anuais. O presidente se lembrou de que, ao longo do cinco de anos de governo, a direção do BC o contrariou algumas vezes.
Conservador na economia, Lula procura proteger a independência formal do BC. Publicamente, defende a política monetária. Quem acompanha os bastidores do governo sabe, porém, que o presidente pressiona Meirelles em conversas reservadas. Mais: Lula incentivou políticas de expansão do crédito quando o BC fazia exatamente o contrário.
Para tentar evitar alta dos juros, o presidente quis acabar logo com a incerteza sobre a substituição da CPMF. O BC aguardava essa solução para dosar sua política.
Em reunião com Lula na quinta-feira, Meirelles reconheceu que o pacote de medidas para compensar a perda da CPMF contribuiria para evitar nova subida dos juros. Se houver uma grande crise mundial, é óbvio que isso mudará de figura.
Gente graúda do mercado financeiro, por exemplo, considerou engenhosa a solução que Mantega adotou para compensar a CPMF. O aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) elevará o custo das operações de crédito e isso deverá diminuir a expansão da tomada de empréstimos no país. Um dos efeitos será menor pressão inflacionária. A alta do IOF pesará mais sobre o crédito do que pesava a CPMF.
Por ora, portanto, parece mesmo afastada a possibilidade de alta da Selic, que está em 11,25% ao ano. O período de manutenção da taxa nesse patamar dependerá do comportamento das economia do mundo e do Brasil ao longo de 2008.
Lula e Mantega apostam num cenário mais positivo. Analistas do mercado financeiro avaliam que, na melhor das hipóteses, o BC reduzirá a Selic em 0,25 ponto percentual por três vezes em 2008. O presidente e seu ministro da Fazenda acham que deram uma contribuição nesse sentido ao editar o "pacote da CPMF".
E-mail: kalencar@folhasp.com.br
Além da óbvia necessidade de compensar a perda de R$ 38 bilhões, uma bolada respeitável no Orçamento de qualquer país do mundo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou o "pacote da CPMF" para frear uma articulação que ganhava força no Banco Central: elevação da taxa taxa básica de juros, a Selic.
No final de 2007, houve recrudescimento da crônica tensão entre a Fazenda e o BC. A primeira, chefiada por Guido Mantega, preocupava-se menos com o comportamento futuro da inflação. Já a turma de Henrique Meirelles começava a falar em novo endurecimento da política monetária com medo de forte reajuste nos preços em 2008.
Lula não gostou da conversa. Aumento de juros poderia quebrar expectativas positivas do empresariado, reduzir investimento e diminuir a meta de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) na casa dos 5% anuais. O presidente se lembrou de que, ao longo do cinco de anos de governo, a direção do BC o contrariou algumas vezes.
Conservador na economia, Lula procura proteger a independência formal do BC. Publicamente, defende a política monetária. Quem acompanha os bastidores do governo sabe, porém, que o presidente pressiona Meirelles em conversas reservadas. Mais: Lula incentivou políticas de expansão do crédito quando o BC fazia exatamente o contrário.
Para tentar evitar alta dos juros, o presidente quis acabar logo com a incerteza sobre a substituição da CPMF. O BC aguardava essa solução para dosar sua política.
Em reunião com Lula na quinta-feira, Meirelles reconheceu que o pacote de medidas para compensar a perda da CPMF contribuiria para evitar nova subida dos juros. Se houver uma grande crise mundial, é óbvio que isso mudará de figura.
Gente graúda do mercado financeiro, por exemplo, considerou engenhosa a solução que Mantega adotou para compensar a CPMF. O aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) elevará o custo das operações de crédito e isso deverá diminuir a expansão da tomada de empréstimos no país. Um dos efeitos será menor pressão inflacionária. A alta do IOF pesará mais sobre o crédito do que pesava a CPMF.
Por ora, portanto, parece mesmo afastada a possibilidade de alta da Selic, que está em 11,25% ao ano. O período de manutenção da taxa nesse patamar dependerá do comportamento das economia do mundo e do Brasil ao longo de 2008.
Lula e Mantega apostam num cenário mais positivo. Analistas do mercado financeiro avaliam que, na melhor das hipóteses, o BC reduzirá a Selic em 0,25 ponto percentual por três vezes em 2008. O presidente e seu ministro da Fazenda acham que deram uma contribuição nesse sentido ao editar o "pacote da CPMF".
E-mail: kalencar@folhasp.com.br