Já ouvi e vi várias sugestões e ações infelizes para diminuir a violência. Ouvi opiniões favoráveis ao extermínio em grande escala dos moradores das favelas. Por exemplo, ouvi que as favelas deveriam ser bombardeadas até a destruição total, matando todos os moradores. Teve quem sugeriu adicionar medicação anticoncepcional nos reservatórios de água dos bolsões da pobreza, para evitar o crescimento da população pobre. Teve quem mandou a polícia para as ruas com a ordem de atirar primeiro e perguntar depois. Teve quem sugeriu promover incêndios criminosos de grande proporção em favelas, para matar o maior número possível de pessoas e destruir aqueles barracos que tanto enfeiam as cidades e desvalorizam o mercado imobiliário nas proximidades. E continuam as sugestões e ações contra a população pobre: em SP, Serra, o eterno candidato, quando foi prefeito, por um curto espaço de tempo, construiu rampas anti-mendigos em áreas nobres da cidade. Nenhum programa para melhorar a vida dessas pessoas, devolver sua dignidade, apenas sugestões para mudá-las de lugar, para afastá-las das elites. Para completar, o governador do RJ, Sérgio Cabral, sugere o aborto, sem que a mulher tenha o direito de escolher se quer, se pode, se lhe convém. A sugestão não é para que a mulher pobre, decidida a fazer o aborto, possa fazer um aborto seguro, sem risco de vida nas clínicas clandestinas, nas mãos de aborteiros de fundo de quintal. Também não é para evitar que crianças nascidas de gravidez indesejada sejam vítimas de barbáries, jogadas no lixo, nos rios, nos esgotos, abandonadas nas ruas, enterradas vivas. Em mais uma opinião infeliz, o governador do RJ diz que o aborto vai contribuir para diminuir a violência. No ‘entendimento’ dele, filhos de mulheres pobres, antes de nascer, quando ainda estão sendo gerados, já são bandidos. O governador do RJ está dando uma contribuição generosa ao saco de besteiras, preconceitos e intolerâncias das elites. Perdeu uma preciosa oportunidade de ficar calado.
Jussara Seixas