18 agosto 2007

Madame na praça
A Praça da Sé, sulcada no centro de São Paulo pelo Trópico de Capricórnio, é, há tempo, uma corte dos milagres. À sombra da fachada da catedral, anacronicamente gótica, e de elegantes palmeiras imperiais, trafegam ao longo do dia saltimbancos, meninos de rua, ambulantes de bugigangas, punguistas. E ainda homens-placa e oradores improvisados, uns propõem a compra de ouro, outros a vida eterna. A esta humanidade em frangalhos vão juntar-se, nesta sexta 17, insólita e empolgante presença, os refinados representantes da elite cansada. O Movimento Cansei anunciou na semana passada um culto ecumênico da catedral da Sé, e nada seria mais eficaz para mostrar a aprovação do Altíssimo. Não contavam com a intervenção do vigário paulistano do Próprio. Na terça 14, o arcebispo Dom Odilo Scherer manifestou certa surpresa, não insenta de leve irritação, com o fato de que o culto estivesse programado sem sua autorização. No dia seguinte, a Cúria emitiu comunicado em que nega nihil obstat ao culto e esclarece não desautorizar o movimento, mas não participar de sua organização. O sátrapa da OAB paulista, Flavio Borges D'Urso, inspirado pelo promoter João Dória Jr, também conhecido como o Iconoclasta-Mor por ter destruído a pauladas um monumento em memória do jornalista Claudio Abramo, revidou com outro comunicado, em que transfere a manifestação do Cansei para a própria praça, com início marcado para o meio-dia. Aconselha-se os organizadores a não promoverem na escadaria da catedral um desfile de cachorrinhos de madame, especialidade de João Dória Jr. Poderiam ser transformados em churrasquinho, em um piscar de olhos, pela plebe fartamente representada.
enviada por mino