23 junho 2006

GOVERNO LULA
FINANCIAL TIMES
23/06/2006


Invenção brasileira planta a idéia de cultivar combustível nos campos
A "era da agro-energia" chega com um óleo diesel enriquecido por vegetal
Jonathan Wheatley
O segundo de uma série de testes industriais de uma forma modificada de diesel teve um resultado extraordinário.Na refinaria Presidente Getúlio Vargas em Araucária, no sul do Brasil, estiveram esta semana o presidente, dois governadores de estado, três ministros, três embaixadores e vários senadores e deputados federais, juntamente com o presidente e centenas de funcionários da Petrobras -o grupo de petróleo de propriedade do governo-, suas famílias e moradores.Houve muita pompa e muitas trocas de terno para macacão e vice-versa. Um dos motivos não tinha nada a ver com o diesel: Luiz Inácio Lula da Silva vai declarar neste fim de semana sua candidatura para as eleições de outubro e está aproveitando todas as oportunidades para inaugurar tudo o que puder, antes que seja impedido de misturar deveres presidenciais com campanha eleitoral, a partir de 1º de julho.Mas o novo diesel merece atenção. A Petrobras o chama de H-Bio, e Roberto Rodrigues, o ministro da Agricultura, diz que ele anuncia "a construção de uma nova era, a era da agro-energia".


O H-Bio usa óleo vegetal, mas não deve ser confundido com o biodiesel, o combustível verde que já é amplamente usado no Brasil e em outros lugares.O H-Bio usa um processo em que óleo vegetal refinado feito de soja, girassol e diversas outras fontes é misturado com óleo diesel mineral comum durante o processo de refino, para produzir um diesel que em termos práticos é indistinguível de qualquer outro, mas tem qualidade superior à do que é normalmente produzido no Brasil.O processo foi desenvolvido pela Petrobras nos últimos 18 meses, e seus detalhes, atualmente tema de um pedido de patente, são mantidos em segredo.Mas ele é barato. A maior parte dos US$ 38 milhões que a Petrobras pretende investir na fase inicial da produção em três refinarias, neste ano e no próximo, será gasta em armazenamento e linhas de abastecimento.Durante os testes, o óleo vegetal está sendo misturado com diesel mineral em uma proporção de 18%. Na produção a quantidade vai variar inicialmente entre 10% e 15%. O plano, em sua primeira fase, é utilizar 256 mil metros cúbicos de óleo vegetal por ano, o suficiente para substituir importações de óleo diesel no valor de US$ 145 milhões. O volume aumentaria para 425 mil m3 em 2008, substituindo importações de diesel no valor de US$ 240 milhões.Os números não são enormes. No início, o H-Bio vai representar apenas 1% a 1,5% do óleo diesel consumido no Brasil. Mas suas implicações podem ser revolucionárias.Como o biodiesel ou a tecnologia flex de combustível -que permite que os motoristas decidam no posto se abastecem com gasolina ou álcool e está presente em quase todos os novos carros vendidos no Brasil-, o H-Bio coloca o país na vanguarda do desenvolvimento de combustíveis verdes, alternativos.Enquanto o sistema flex dá liberdade de opção aos consumidores no momento da compra, o H-Bio vai um passo além e não exige qualquer modificação no motor."Em 15 anos estaremos vivendo em um mundo de combustível diferente", diz Jean-Paul Prates, analista da indústria no Rio de Janeiro. "Uma grande parte da economia dos combustíveis fósseis são os custos de transporte. Agora existe uma alternativa e, se ela crescer, a geopolítica dos combustíveis vai mudar completamente. Até o Iraque e a Arábia Saudita vão perder seu predomínio."A idéia de que óleos combustíveis possam ser plantados nos campos, em vez de extraídos do subsolo, é atraente.O impacto imediato poderá não ser grande. O ministro Rodrigues diz que o uso de soja para biodiesel e H-Bio, por exemplo, representará 2% da safra brasileira para começar, aumentando para 4% a partir de 2008.Mas, embora o Brasil não tenha planos para exportar o combustível H-Bio, pretende ganhar royalties exportando sua tecnologia. As implicações poderão ser abrangentes. "Imagine o que os EUA poderiam fazer colocando óleo de soja no petróleo cru", diz Rodrigues. "Estamos abrindo novos horizontes para a agricultura e para a indústria de petróleo."