ENTREVISTA COM CARCERONI
22/6/2006 "Entre os que se sentem atingidos pela lista de Furnas há muita gente poderosa"
Luiz Fernando Carceroni enfrenta processos, sob acusação de falsificação e divulgação da lista. Em entrevista para a Minas DE FATO, ele explica o que aconteceu desde o momento em que recebeu a lista e a encaminhou para as autoridades. "Exerci meu dever cívico ao denunciar e pedir investigações do documento, contendo fatos gravíssimos".
Minas De Fato: O senhor publicou a lista pela internet?
Luiz Fernando Carceroni: Não. Preciso esclarecer esta questão em detalhes. O que fiz foi enviar à Polícia Federal, ao Ministério Público Federal, e à Controladoria Geral da União uma denúncia, com o documento anexo em cópia eletrônica, em 17 de Dezembro de 2005. Solicitei de cada órgão que apurasse a veracidade do seu conteúdo. Estes órgãos oferecem meios para o cidadão efetuar denúncias pela internet. Alguns sítios, Blogs e páginas da internet divulgaram a lista de Furnas a partir de Outubro de 2005, segundo apontou o relatório da CPMI dos Correios. Em Janeiro de 2006, um deles publicou a lista, acompanhada de uma carta que eu teria escrito ao jornalista Élio Gaspari. A carta tece comentários sobre um documento formado pela lista de furnas acrescida de planilhas e gráficos que apresentam incongruências em relação ao conteúdo original. Entretanto, o detalhe essencial para responder a sua pergunta é técnico, pois os sítios, Blogs e páginas possuem proprietários. A publicação de qualquer documento neles só pode ser feita com o uso da senha do proprietário. Eu não sou proprietário de nenhum deles e nem possuo senhas. Portanto, não publiquei a lista.
Minas De Fato: O senhor conhece Dimas Toledo e Nilton Monteiro?
Carceroni: Não conheço Dimas Toledo e não conhecia Nilton Monteiro até a lista de Furnas ser divulgada e ganhar notoriedade através da imprensa. Conheci e conversei com Nilton Monteiro em maio de 2006, no Juizado de Pequenas Causas da UFMG. Somos réus no mesmo processo, cujos autores são 11 deputados estaduais mineiros. De fato, nosso primeiro encontro se deu em fevereiro de 2006, na sala da Superintendente da Polícia Federal de Minas Gerais. Recebi ameaças contra a minha integridade física e de meus filhos e fui lá pedir garantias de vida e informações de meus telefones estariam grampeados. Quando estava saindo da sala, Nilton Monteiro chegou e fomos apresentados pelo deputado Rogério Correia (PT), que me acompanhava, mas não conversamos naquela oportunidade.
Minas De Fato:
Qual a ligação do senhor com a estatal Furnas Centrais Elétricas?
Carceroni: Nenhuma.
Minas De Fato: Quando o senhor teve acesso a lista e quem lhe entregou a lista?Carceroni: Em Novembro de 2006 recebi uma cópia xerográfica simples, de um documento autenticado e com firma reconhecida em cartório, das mãos do Deputado Estadual Rogério Correia.
Minas De Fato: Porque Dimas nega que a assinatura do documento é verdadeira, mesmo depois do parecer da PF?
Carceroni: Se Dimas confirmar a assinatura, confessa o cometimento de crime. Ele tem o direito legal de negar. As autoridades têm a obrigação de investigar até alcançar a verdade. Doa a quem doer!
Minas De Fato: É possível que outros nomes estejam envolvidos no esquema e que não estejam na lista?
Carceroni: Se ficar comprovada a existência do caixa dois de Furnas, mesmo que parcialmente. Ficará plausível a existência de outros envolvidos. Seria uma incrível coincidência o dinheiro do caixa dois ter ido somente para candidatos eleitos. Há ainda anos anteriores a 2002.
Minas De Fato: O senhor está sendo processado por quem?
Carceroni: Os 13 processos são motivados pela acusação de falsificação e divulgação da lista de Furnas. São dois processos criminais e onze processos cíveis por danos morais cujos autores são todos deputados.O primeiro processo criminal tem como autores os deputados: Fábio Avelar, Jayro Lessa, José Militao, João Leite e Márcio Reinaldo.Segundo o processo criminal tem como autores: Jairo Carneiro, Ney Lopes, Almerinda Figueiras de Carvalho, Antônio Adolpho Lobbe Neto, Antônio Carlos Pannunzio, Coriolano Sousa Sales.O terceiro processo cível tem como autores: João Leite, Domingos Savio, Luiz Humberto Carneiro, Ermano Batista, Fahim Sawan, Ana Maria Resende Vieira, Vanessa Lucas, Jayro Lessa, Sebastião Costa, Gil Pereira e Fabio Avelar.
Minas De Fato: Depois do parecer da Polícia Federal, o senhor pretende processar quem o processou?
Carceroni: Sim. Todos os que me acusaram de falsificador e divulgador de documento falso. Entre eles o deputado Osmar Serraglio, os senadores Arthur Virgílio e Agripino Maia. O congresso nacional representado pela câmara e senado, pelo relatório da CPMI dos Correios produzido em nome da instituição, alguns jornalistas por opinião de responsabilidade pessoal e jornais pelo mesmo fundamento e os que estão me processando injustamente.
Minas De Fato: Qual a situação dos processos que recaem sobre o senhor?Carceroni: O primeiro processo está ainda na fase de inquérito policial e sem denúncia. O segundo está no Tribunal de justiça aguardando a manifestação dos autores sem pronúncia nem inquérito. O terceiro tem audiência marcada no Juizado Especial da UFMG, na Escola de Direito, dia nove de agosto de 2006, às 9 horas da manhã, para audiência de instrução e julgamento.
Minas De Fato: O senhor conhece alguma das pessoas citadas na lista?
Carceroni: Que me lembro, conheço seis pessoas de Minas Gerais. O deputado João Leite que me processa duplamente e mais cinco, que prefiro não citar neste momento.
Minas De Fato: Qual o sentimento que fica diante de tantos processos contra o senhor?
Carceroni: Absolutamente de injustiçado e ofendido. Fui acusado de falsificar e de participar de uma conspiração petista que nunca existiu. Sou um homem honrado e agora sofro vários processos por mais de 20 deputados. Eles querem macular a minha vida e desassossegar minha família. Sou um cidadão que exerceu seu dever cívico ao denunciar e pedir investigações sobre a veracidade ou não de um documento, com conteúdo de fatos gravíssimos que chegou às minhas mãos. Ao receber o documento, me foi dito pelo deputado Rogério Correia, "Eu vi e li o documento original assinado". Sendo o deputado um homem honrado que conheço há 27 anos e após muita reflexão decidi apresenta-lo aos órgãos de investigações responsáveis pela apuração de crimes desta natureza. Sabia que seria investigado, acusado, ameaçado e pressionado como ocorreu até agora. Entre os que se sentem atingidos pela existência da lista de Furnas, há muita gente poderosa.
Minas De Fato: Qual a avaliação que o senhor faz desse esquema e por que trouxe a público?
Carceroni: O esquema de caixa dois em Furnas sempre foi mencionado nos meios políticos, mas sem comprovação. Agora passou a ser investigado e já apareceram indícios de que ocorreu apontado pelas investigações. Penso que a autenticidade pericial da lista de Furnas aponta um novo rumo para as investigações. O documento cita os responsáveis pelo recebimento dos recursos de caixa dois. Ele atribui aos coordenadores de campanhas em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro o recebimento e distribuição dos recursos arrecadados de empresas públicas e privadas e repassados aos candidatos listados. A quebra dos sigilos bancários e telefônicos destes coordenadores e recebedores e de seus parentes e funcionários mostrará se ocorreu ou não o caixa dois tucano em 2002. Nos demais estados indica as empresas diretamente responsáveis pelo repasses de recursos.
Conheça a Lista de Furnas, em:
http://caixadoistucanodefurnas.blogspot.com/Conheça a Lista de Furnas, em:
Alyda
O Informante -
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