CLÓVIS ROSSI
Enviado especial da Folha de S.Paulo a Viena
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva acusou a revista "Veja" de ter praticado "crime" e de ter chegado ao "limite da podridão", por causa da reportagem na qual aponta supostas contas no exterior de Lula, de outras figuras do governo e de ex-ministros.Numa entrevista à "Veja", Daniel Dantas disse que o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares teria pedido entre US$ 40 milhões e US$ 50 milhões para proteger o Opportunity na disputa com o Citibank e fundos pelo controle da Brasil Telecom. Divulgou ainda uma lista de petistas que teriam contas no exterior (leia abaixo).A lista teria sido produto da investigação da Kroll a pedido de Dantas, que diz ter sofrido perseguição do governo Lula por rejeitar pedidos de propina. A "Veja" diz ter tido acesso à relação em setembro de 2005. Após submeter o material à perícia, não conseguiu determinar nem a veracidade nem a falsidade do documento.O presidente Lula chamou o jornalista que escreveu o texto de "bandido, mau caráter, malfeitor e mentiroso", mas ele não especificou a quem estava se referindo. A reportagem foi escrita por Marcio Aith. Já a entrevista de Dantas foi concedida a Diogo Mainardi.A reação do presidente, de inusitada dureza, aconteceu ao chegar ao Hotel Imperial depois de sua visita a Heinz Fischer, o presidente da Áustria. Questionado sobre a denúncia, Lula respondeu a princípio com uma ironia: "A Veja não fez uma denúncia. Fez uma mentira. Se tivessem me avisado antes que eu tinha 38 mil euros, eu teria comprado um presente para dona Marisa. Fico sabendo quando vou embora, pô". Depois, passou ao ataque, de um só fôlego:"Vamos ser francos agora. Alguns jornalistas há já algum tempo estão merecendo o prêmio Nobel de irresponsabilidade. Eu só posso considerar isso um crime praticado por um jornalista ou por uma revista. Não posso comparar isso a jornalismo. Sinceramente, é de uma leviandade, de uma grosseria. Se um ser humano comum não pode admitir, quanto mais um presidente da República.Acho que, quando as pessoas têm o poder de escrever alguma coisa, aumenta a responsabilidade. Acho de uma total irresponsabilidade você escrever. Vocês sabem o que esse jornalista que estou citando tem feito neste país ao longo destes últimos meses. Não acredito que, na revista 'Veja', tenha uma única pessoa que tenha 10% da dignidade da minha história de campanha", declarou.E prosseguiu: "Não posso admitir isso. Não posso. É uma ofensa ao presidente da República, é uma ofensa ao povo brasileiro. Essa prática de jornalismo não leva a lugar nenhum". Perguntado sobre o que faria, Lula disse que não lera direito a reportagem, mas voltou à carga: "Acho uma insanidade. A 'Veja' vem assim há algum tempo. Não é de hoje, não, mas acho que ela chegou ao limite da podridão da imprensa. Chegou ao limite. Chegou ao limite. Não sei se o jornalista que escreve uma matéria daquelas tem a dignidade de dizer que é jornalista. Poderia dizer que é bandido, mau caráter, malfeitor, mentiroso. É até constrangedor para um presidente da República saber que tem uma mentira dessa grosseria numa revista que deveria respeitar os seus leitores, [que] não merecem a quantidade de mentiras que a 'Veja' tem publicado".Colaborou a Redação da Folha de S.Paulo
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