22 maio 2006


22/05/2006 - Sabesp pagou R$ 1 mi a editora de tucano
Reportagem publicada na Folha de S.Paulo de domingo (21/05):
Nos dois últimos anos do governo Geraldo Alckmin, pré-candidato tucano à Presidência, a estatal Sabesp abasteceu com R$ 1 milhão de sua verba publicitária a editora e o programa de TV do deputado estadual Wagner Salustiano (PSDB).
Dos R$ 522 mil que a Sabesp destinou à mídia "revistas" em 2004, nada menos que 46,5% jorraram para a revista "DeFato", produzida pela W.A.S. Editora Gráfica e Comunicação Ltda. A Sabesp pagou à empresa de Salustiano valores mais elevados do que os despendidos com peças semelhantes veiculadas nas revistas "Exame-SP", "Isto É Dinheiro", "Trip" e "Municípios".
A preferência pela revista de Salustiano reforça a suspeita de que parlamentares da base aliada do governo tucano foram beneficiados com o direcionamento do dinheiro de estatais, como a Folha revelou em 26 de março. O objetivo seria garantir a votação de projetos de interesse do governo.
Em 2004 e 2005, a Nossa Caixa gastou R$ 313 mil em anúncios na revista "DeFato" e em inserções no "Entrevista DeFato", programa que o parlamentar tucano apresentava na TV Mulher. Entre abril de 2004 e agosto de 2005, a Sabesp destinou R$ 404,7 mil à revista e R$ 665,3 mil ao programa de TV. A estatal diz que suas verbas de comunicação e propaganda chegam a R$ 25 milhões por ano. Ela operava com a agência Giovanni, FCB.
Promotoria
O Ministério Público Estadual incluiu a Sabesp nas investigações instauradas em dezembro para apurar irregularidades nos contratos de publicidade de estatais no governo Alckmin. Uma sindicância na Nossa Caixa trouxe à tona a troca de e-mails nos quais a assessoria de Comunicação do governo Alckmin e a agência Contexto, que atendia à Casa Civil, orientavam as áreas de propaganda e marketing do banco. A revelação motivou a exoneração, a pedido, do assessor de Comunicação, Roger Ferreira, que coordenava a estratégia de comunicação das estatais.
Denúncia enviada ao Ministério Público apontou como supostos beneficiários, além de Salustiano, os deputados estaduais Afanasio Jazadji (PFL), Edson Ferrarini (PTB) e Geraldo "Bispo Gê" Tenuta (PTB).
Segundo a denúncia, "estima-se que o deputado [Salustiano] retire cerca de R$ 1 milhão por ano do banco [Nossa Caixa] e outro tanto da Sabesp". Ferrarini e Jazadji informaram ao MP que a Nossa Caixa fez veiculações, respectivamente, de R$ 60 mil e R$ 8 mil em seus programas. Tenuta, por sua vez, sustentou que nunca recebeu "nenhum valor".
Jazadji confirmou que houve "várias promessas de verbas publicitárias para seus programas de rádio e de TV, desde que deixasse de criticar os secretários de Segurança Pública, da Administração Penitenciária e da Educação" do governo Alckmin. "Jamais vou me curvar à chantagem política", disse.
Ferrarini disse que a gerência comercial de seu programa foi procurada pela agência que atendia a Nossa Caixa, "contratou as inserções e pagou pelo trabalho". "Em nenhum momento deixou transparecer qualquer irregularidade", afirmou o deputado.A Folha consultou, em março, as estatais Sabesp, Dersa, CDHU, Prodesp e Metrô sobre eventuais despesas de publicidade com parlamentares. Só obteve resposta do Metrô, que informou não ter feito nenhuma veiculação.
A Sabesp só agilizou o envio de informações ao Ministério Público, ao qual solicitara prorrogação, ao ser informada que a empresa poderia vir a ser alvo de procedimento por crime de desobediência se não fornecesse em 24 horas os dados requisitados.
Questionada pela Folha sobre anúncios para o "Bispo Gê", a Sabesp informou que fez veiculação "na programação rotativa da Rede Gospel de Televisão", sem especificar os valores. Alegou "confidencialidade", por envolver "relações comerciais com terceiros".Não foi decretado sigilo nas investigações.
O promotor de Justiça Sérgio Turra Sobrane indeferiu pedido de sigilo feito pelo ex-gerente de marketing da Nossa Caixa, Jaime de Castro Júnior, por entender que "os fatos estão relacionados com emprego possivelmente irregular de dinheiro público e não atingem a intimidade daqueles que participaram, de forma direta ou indireta, do comprometimento dos recursos".
Folha de S.Paulo