03 fevereiro 2006

CAIXA DOIS TUCANO?

Nova denúncia altera correlaçãode forças na crise política

Por Márcia Xavier

A divulgação da "Lista de Furnas", uma relação de 156 políticos ligados ao governo Fernando Henrique Cardoso que teriam recebido recursos da empresa, é vista por analistas políticos em Brasília como um indicativo de reversão na correlação de forças na crise política. A oposição demonstra preocupação com a lista encabeçada pelos três principais candidatos a candidato tucano à Presidência da República nas eleições deste ano.
Enquanto a Polícia Federal investiga a origem da lista e convoca os acusados para depoimentos, existe expectativa de alguma decisão política na CPI dos Correios. Se o debate sobre o assunto prosperar, a crise política pode passar a ajudar o governo Lula.
Existe porém a possibilidade de um "acordão" para sepultar o assunto, evitando a investigação da lista. Mas muitos avaliam que isso provocaria revolta da opinião pública e ajudaria a esvaziar as CPIs.
O ambiente não é positivo para a oposição, que tinha nas CPIs e nas investigações do suposto “mensalão” a sua principal munição eleitoral, o único recurso que se revelou capaz de reduzir as chances de reeleição do presidente Lula. O fluxo negativo de notícias mantinha o governo em xeque. Agora, em outras condições de pressão, o tempo trabalha a favor de Lula, como mostrou a pesquisa última Ibope/Editora Três e deve aparecer em outras sondagens.
Caiu a máscara
O deputado Jamil Murad (PCdoB-SP), membro da CPI dos Correios, disse que o assunto não foi discutido na reunião administrativa da CPI nesta quinta-feira (2), mas que o clima estava carregado e “existem sinais de que os oposicionistas desejam terminar as investigações para sepultar a 'bomba' contra eles”.
Para Jamil, nos últimos dois meses vieram à tona várias denúncias do uso de caixa dois do PSDB e o comprometimento do PFL. “Caiu a máscara daqueles que queiram se colocar como defensores da ética, moral e bons costumes”, diz o parlamentar comunista, acrescentando que “a luta deles não é pela ética, é só para voltar ao poder e esses acontecimentos demostram que a presença deles no poder vai piorar a situação no país”.
O parlamentar lembrou que as investigações da CPI dos Correios registram que o “valerioduto” começou no governo Eduardo Azeredo (PSDB-MG), ex-presidente do PSDB. Mas apesar das evidências, ele não foi convocado para depor na CPI e nem citado no relatório, reclamou. Jamil Murad destaca o fato de, ao mesmo tempo, o relator da comissão, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), anunciar que fará menção ao presidente Lula por crime de presunção.
Jamil insiste ainda na questão do banqueiro Daniel Dantas, do Banco Opportunity, “comprometido com todo tipo de crime e homem de confiança do PSDB e PFL, que se esconde atrás de uma liminar, para evitar as investigações que esclareceriam crimes contra patrimônio nacional”.
De Brasília