EM HOMENAGEM
À MARINHA DO BRASIL VIVA
O MESTRE -SALA DOS MARES
13 de Dezembro Dia do Marinheiro
O Negro da Chibata
O marinheiro que liderou a primeira revolta da República
O NEGRO DA CHIBATA, de Fernando Granato, narra a trajetória de João Cândido Felisberto, o Almirante Negro, que entrou para a história por liderar, em 1910, o levante armado dos marujos contra o uso de castigos físicos na Marinha brasileira. Herança militar portuguesa, os maus-tratos eram uma regra entre os navais. A Revolta da Chibata, observa o autor, é o resultado de uma consciência política até então desconhecida na classe operária do país.
Filho de ex-escravos, João Cândido entrou para a corporação em 1894, aos 14 anos — época em que as Forças Armadas aceitavam menores e a Marinha, em particular, recrutava-os junto à polícia. Este não foi o caso de João Cândido. Recomendado por um almirante, que se tornara seu protetor, logo desponta como líder e interlocutor dos marujos junto aos oficiais.
Em 1910, uma viagem de instrução à Inglaterra alicerça, entre os marinheiros brasileiros, as bases para o levante conspiratório que poria fim ao uso de castigos físicos na Marinha. Durante a viagem inaugural do Minas Gerais, João Cândido e companheiros tomam ciência do movimento pela melhoria das condições de trabalho levado a cabo pelos marinheiros britânicos entre 1903 e 1906. E, ainda, da insurreição dos russos embarcados no encouraçado Potemkin, em 1905.
De volta ao Brasil, o estalo das chibatas não cessa, e os soldos baixos — contrastando com o status de maior frota náutica do mundo, superior até mesmo à inglesa — acirra o clima de tensão entre os marujos. Até que em 22 de novembro de 1910, a lembrança das 250 chibatadas recebidas por um marinheiro, no dia anterior, deflagra o início da revolta. Durante quatro dias, marinheiros liderados por João Cândido e entrincheirados nos navios São Paulo, Bahia, Minas Gerais e Deodoro — ancorados ao longo da baía da Guanabara — lançam bombas na cidade.
Finda a revolta e traídos pelo Governo, que prometera anistiar todos os revoltosos, João Cândido e companheiros acabam presos. A defesa de Evaristo de Moraes inocenta o grupo. Mas, daí para frente, o Almirante Negro passa a levar, até a morte, a fama de líder subversivo. "Nós queríamos combater os maus-tratos, a má alimentação (...) E acabar com a chibata, o caso era só este" — declarou João Cândido, em 1968, em depoimento ao Museu de Imagem e do Som.
O NEGRO DA CHIBATA ilumina, ainda, um período pouco conhecido da história do Almirante Negro, e que vai da absolvição à morte, no Rio de Janeiro, em 1969, aos 89 anos. Aponta que a fama de "perigoso" não reflete as convicções políticas de João Cândido, muito menos encontra respaldo na vida que passou a levar, após o fim da revolta — época marcada pela perseguição política, pela penúria e pelas tragédias pessoais. De marinheiro a pescador, recluso e doente, teve a polícia vigilante até mesmo em seu enterro.
No começo da década de 70, João Bosco e Aldir Blanc homenagearam João Cândido Felisberto com o samba O Mestre-sala dos mares. A história do Almirante Negro e da Revolta da Chibata ainda fazia eco nos círculos militares e a música acabou vetada pela censura por trazer à tona um assunto proibido pelas Forças Armadas.
Fernando Granato tem 37 anos, é jornalista e já trabalhou nos principais veículos de comunicação do país, entre eles a revista Veja e o Jornal da Tarde e O Estado de S. Paulo. É autor dos livros Esses jovens escritores, Bonequinhas manchadas de sangue, Sociedade de ladrões e Nas Trilhas do Rosa.
História, biografia, memórias
O marinheiro que liderou a primeira revolta da República
O NEGRO DA CHIBATA, de Fernando Granato, narra a trajetória de João Cândido Felisberto, o Almirante Negro, que entrou para a história por liderar, em 1910, o levante armado dos marujos contra o uso de castigos físicos na Marinha brasileira. Herança militar portuguesa, os maus-tratos eram uma regra entre os navais. A Revolta da Chibata, observa o autor, é o resultado de uma consciência política até então desconhecida na classe operária do país.
Filho de ex-escravos, João Cândido entrou para a corporação em 1894, aos 14 anos — época em que as Forças Armadas aceitavam menores e a Marinha, em particular, recrutava-os junto à polícia. Este não foi o caso de João Cândido. Recomendado por um almirante, que se tornara seu protetor, logo desponta como líder e interlocutor dos marujos junto aos oficiais.
Em 1910, uma viagem de instrução à Inglaterra alicerça, entre os marinheiros brasileiros, as bases para o levante conspiratório que poria fim ao uso de castigos físicos na Marinha. Durante a viagem inaugural do Minas Gerais, João Cândido e companheiros tomam ciência do movimento pela melhoria das condições de trabalho levado a cabo pelos marinheiros britânicos entre 1903 e 1906. E, ainda, da insurreição dos russos embarcados no encouraçado Potemkin, em 1905.
De volta ao Brasil, o estalo das chibatas não cessa, e os soldos baixos — contrastando com o status de maior frota náutica do mundo, superior até mesmo à inglesa — acirra o clima de tensão entre os marujos. Até que em 22 de novembro de 1910, a lembrança das 250 chibatadas recebidas por um marinheiro, no dia anterior, deflagra o início da revolta. Durante quatro dias, marinheiros liderados por João Cândido e entrincheirados nos navios São Paulo, Bahia, Minas Gerais e Deodoro — ancorados ao longo da baía da Guanabara — lançam bombas na cidade.
Finda a revolta e traídos pelo Governo, que prometera anistiar todos os revoltosos, João Cândido e companheiros acabam presos. A defesa de Evaristo de Moraes inocenta o grupo. Mas, daí para frente, o Almirante Negro passa a levar, até a morte, a fama de líder subversivo. "Nós queríamos combater os maus-tratos, a má alimentação (...) E acabar com a chibata, o caso era só este" — declarou João Cândido, em 1968, em depoimento ao Museu de Imagem e do Som.
O NEGRO DA CHIBATA ilumina, ainda, um período pouco conhecido da história do Almirante Negro, e que vai da absolvição à morte, no Rio de Janeiro, em 1969, aos 89 anos. Aponta que a fama de "perigoso" não reflete as convicções políticas de João Cândido, muito menos encontra respaldo na vida que passou a levar, após o fim da revolta — época marcada pela perseguição política, pela penúria e pelas tragédias pessoais. De marinheiro a pescador, recluso e doente, teve a polícia vigilante até mesmo em seu enterro.
No começo da década de 70, João Bosco e Aldir Blanc homenagearam João Cândido Felisberto com o samba O Mestre-sala dos mares. A história do Almirante Negro e da Revolta da Chibata ainda fazia eco nos círculos militares e a música acabou vetada pela censura por trazer à tona um assunto proibido pelas Forças Armadas.
Fernando Granato tem 37 anos, é jornalista e já trabalhou nos principais veículos de comunicação do país, entre eles a revista Veja e o Jornal da Tarde e O Estado de S. Paulo. É autor dos livros Esses jovens escritores, Bonequinhas manchadas de sangue, Sociedade de ladrões e Nas Trilhas do Rosa.
História, biografia, memórias