05 setembro 2005

VALÉRIODUTO É COM O PSDBOSTA
_____________________________
____________________________


Testemunha assume que apresentou a petistas documento com nomes financiados por Valério na campanha de Azeredo em 98Lobista diz que deu lista de tucanos à CPI.

ELVIRA LOBATODA SUCURSAL DO RIO.

O lobista mineiro Nilton Antônio Monteiro, 57, assumiu, em entrevista à Folha, a responsabilidade pela apresentação da lista com nomes de políticos de Minas Gerais que receberam dinheiro do publicitário Marcos Valério de Souza durante a campanha eleitoral de 1998 -que acirrou ainda mais os ânimos entre o PSDB e o PT ao longo da semana- e disse que Valério conversou com ele sobre como ""esquentar" R$ 40 milhões que estariam no exterior.Monteiro diz que entregou a suposta lista de financiamento de campanha tucana ao deputado estadual petista Alessandro Molon (RJ), em 25 de julho. Molon repassou o material ao presidente regional do partido, Gilberto Palmares, que, no mesmo dia, o enviou para a CPI dos Correios.Molon telefonou ao procurador da República Márcio Barra Lima e perguntou se ele poderia tomar o depoimento de Monteiro. O depoimento durou três dias.O Ministério Público Federal do Rio informou que cópias do depoimento e dos papéis com a suposta contabilidade paralela da campanha de Eduardo Azeredo a governador de Minas foram entregues ao procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, à Procuradoria de Justiça e ao TRE de Minas Gerais.Monteiro se apresenta como ""intermediário de negócios" e diz que sua especialidade é ligar compradores e vendedores de créditos tributários e negociar recebimento de créditos de empresas privadas junto a órgãos públicos. Por isso, é tido como lobista.Ele ficou conhecido em 2001 quando apontou o esquema de corrupção para transferência de créditos de ICMS no Espírito Santo, no governo de José Ignácio Ferreira, ex-PSDB. Monteiro entregou gravações de telefonemas que envolveram autoridades com a cobrança de comissões.Ele disse que o ex-tesoureiro da campanha de Azeredo de 98, Cláudio Mourão, entregou a Valério cópias da movimentação financeira da campanha.Por meio de seu advogado, Valério negou que tenha conta no exterior e disse que colocou à disposição da CPI do Mensalão uma autorização para investigar eventuais contas fora do país.
Folha - Onde o senhor nasceu e qual a sua profissão?Monteiro - Nasci em Lajinha do Mutum, leste de Minas, tenho diploma de técnico em análises químicas, mas minha especialidade é intermediar negócios, principalmente entre empresas privadas e setor público. Negociação de crédito tributário é minha principal atividade. Também sou procurado por empresas para resolver problemas com o Estado.
Folha - Como a lista da campanha de Eduardo Azeredo em 1998 veio parar nas suas mãos?Monteiro - Em 1994, meu pai, que era gerente dos Correios, emprestou R$ 80 mil ao Delfim Ribeiro [ex-deputado estadual de Minas], que confirmou que o dinheiro foi usado na campanha de Azeredo a governador. A dívida foi transferida para o PSDB, por acordo político. Cobrei a dívida várias vezes do João Heraldo Lima, que foi secretário de Fazenda de Azeredo [hoje diretor do Banco Rural] e também de Azeredo. Nunca arrecadei dinheiro para partidos, mas ajudei na campanha de Azeredo de 98, levando material para o interior de Minas.
Folha - Quando a lista de tucanos financiados por Marcos Valério chegou às suas mãos?Monteiro - No final de 1998. Cobrava do João Heraldo pagamento dos R$ 80 mil. Ele foi ver se o débito aparecia na contabilidade da campanha. Não aparecia. Vi que eles não tinham interesse em me pagar. O Heraldo pediu a um funcionário para tirar cópia dos papéis. Consegui uma cópia e guardei por quase sete anos.
Folha - O senhor passou, então, a pressionar o Azeredo?Monteiro - Voltei a procurar o Azeredo, em 2003. Ele disse que não podia fazer nada por mim. Encontrei-o de novo em 2004. Ele tinha ficado sabendo que eu tinha cópia dos papéis. Tivemos uma discussão. Ele estava preocupado, pediu para eu entregar os documentos, ameaçou me interpelar judicialmente, que era apropriação indébita. Eu falei: interpela! Ele teve coragem? (...) Pelos papéis, foram gastos R$ 53 milhões na campanha. Parte desse dinheiro saiu dos cofres públicos.
Folha - O sr. se aproximou do ex-tesoureiro da campanha de Azeredo em 98, Cláudio Mourão. Ele também dizia que havia emprestado dinheiro e que não havia recebido. Ele entrou com pedido de indenização de R$ 3 milhões contra Azeredo e Clésio Andrade. O sr. e Mourão fizeram acordo?Monteiro - Foi uma parceria. Como o PSDB não recebia mais o Mourão, ele me deu procuração para tentar receber créditos. Eu teria uma participação, se conseguisse. (...) Mourão tinha mais papéis sobre a campanha do que eu.
Folha - O Azeredo chegou a fazer alguma proposta?Monteiro - Ele queria que eu fizesse um trabalho na SMPB ou no escritório de Tolentino, sócio do Valério. (...) Me deu um cartão do senador Arthur Virgílio, disse que, se eu aceitasse, deveria ir a Brasília receber instruções.
Folha - O senhor se encontrou com o Marcos Valério?Monteiro - O Mourão me levou a uma reunião com ele, no escritório do Rogério Tolentino, em julho. Eles não tinham os documentos das contas de 98. Quem entregou a eles foi o Mourão.
Folha - Qual o motivo da reunião?Monteiro - Valério estava preocupado porque precisava levantar de R$ 40 milhões a R$ 60 milhões em notas. Participo de um negócio em um espólio de terrenos na Barra da Tijuca e meu cliente já ganhou precatórios de R$ 500 milhões. O interesse do Valério era "esquentar" dinheiro que está fora. Meu cliente não topou.
Folha - O sr. recebeu dinheiro do PT para entregar a lista de doação para a campanha do Azeredo?Monteiro - Em nenhum momento negociei os documentos em troca de dinheiro.
Estatais de Minas são apontadas como "doadoras"
DA SUCURSAL DO RIO O homem que entregou ao Ministério Público Federal a lista de financiados do PSDB por empresas de Marcos Valério disse que a campanha para a reeleição de Eduardo Azeredo a governador de Minas Gerais, em 1998, recebeu reforço de R$ 8,5 milhões do governo do Estado.A administração pública direta teria repassado R$ 2 milhões e R$ 6,5 milhões teriam vindo de empresas estatais -Cemig (eletricidade), Copasa (saneamento), Loteria Mineira, Comig (mineração)- e de ex-estatais (Banco de Crédito Real e Bemge (Banco do Estado de Minas Gerais)- privatizadas na gestão de Azeredo (1994-98). O Bemge foi privatizado em setembro de 1998 e o Credireal, em agosto de 1997.Azeredo tentou reeleger-se governador em 98, tendo o empresário Clésio Andrade, atual vice-governador, como vice na chapa.Nilton Monteiro entregou aos procuradores da República cópia do que seria o balanço financeiro da campanha e que ele afirma ter obtido no final de 1998.Entre os documentos estão listas apócrifas com nomes de mais de cem políticos do Estado que teriam sido financiados pelas empresas de Valério e várias folhas com cópias de recibos de depósitos do Banco Real com transferências de valores da conta da SMPB para deputados estaduais e federais e para ex-deputados.Há, ainda, um conjunto de folhas com o resumo da movimentação financeira da campanha, no qual está indicado que as empresas SMPB e DNA movimentaram R$ 53 milhões na campanha.As estatais, segundo os papéis com a Procuradoria, repassaram dinheiro para a campanha como se fosse patrocínio do evento de corrida de motos Enduro da Independência, ocorrido naquele ano. A SMPB tinha exclusividade na organização do evento.Até agora, era público que duas empresas estaduais -Comig (atual Codemig) e a Copasa- tinham patrocinado o evento, cada uma com R$ 1,5 milhão.Na documentação reunida por Monteiro consta que as empresas mineiras tiveram a seguinte participação como patrocinadoras do Enduro da Independência: Cemig, R$ 1,5 milhão; Copasa, R$ 1,5 mi; Bemge, R$ 1 mi; Crédito Real, R$ 1 mi; Loteria de Minas; R$ 500 mil; e Comig; R$ 1 mi.O Ministério Público do Estado já havia entrado com ação contra Azeredo e Clésio por suspeita de que os R$ 3 milhões desembolsados pela Cemig e Copasa teriam financiando a campanha. Com a eleição de Azeredo para senador, o processo foi transferido para o STF, onde ainda se encontra.Na papelada, consta que Clésio transferiu, como doação, R$ 8,25 milhões para a campanha, por meio de transferências da SMPB.Clésio foi sócio de Valério na DNA e na SMPB, mas, formalmente, a sociedade foi desfeita em julho de 1998, com a oficialização da candidatura. Ele transferiu suas cotas para os sócios e, dois anos depois, entrou com ação argumentando que eles não teriam efetuado o pagamento nas condições acertadas. (EL)