Caro Genoino,
Fiquei sabendo que você não está querendo receber visitas. Nem deve.
Quanto mais tranquilo você puder ficar com a família e se cuidar nestes
dias difíceis, melhor. O mais importante é se alimentar bem para
revigorar as forças e tomar os remédios na hora certa.
Por isso, e porque está proibido de dar entrevistas, resolvi escrever
esta breve carta só para te dizer que, embora fosse dolorido, você fez
muito bem em renunciar ao mandato e acabar de uma vez com este
deprimente espetáculo de humilhação que vinha sofrendo por parte de
setores da oposição e da mídia amiga (deles).
Sei que você já vinha pensando nisso há algum tempo, não foi uma
decisão tomada no calor do embate, e só estava esperando o melhor
momento, mas tem uma hora em que é preciso haver um desfecho e qualquer
solução é melhor do que nenhuma.
Com certeza, você deve agora estar se sentindo mais aliviado, embora
tua agonia esteja longe de acabar, sempre dependendo dos outros para
saber o que vai ser da tua vida amanhã.
Nessa situação, cada dia é um dia ganho que pode ser decisivo, como
agora nesta sexta-feira, em que termina o prazo para a defesa apresentar
seus argumentos sobre a prisão domiciliar ao STF. Depois, é esperar por
uma decisão de Joaquim Barbosa, o presidente do tribunal.
O grande trunfo com que você conta, e ninguém vai lhe tirar, é esta
tua maravilhosa família, que encontrei muito unida quando fui lhe
visitar no hospital depois da cirurgia. Depois da prisão, Rioco e Miruna
revelaram-se duas leoas na defesa da sua integridade física e moral.
Quarenta anos atrás, vocês se abraçaram numa cela e Rioco teve que
esperar o namorado sair da cadeia para poder se casar. Agora, repetiram a
cena, quando ela foi te ver na Papuda, e vai ter que precisar de muita
paciência outra vez. Nunca vocês, nem ninguém, poderiam imaginar que
isso pudesse acontecer de novo.
Qualquer dia desses a gente se vê para colocar as conversas em dia. Te cuida, meu amigo.
Vida que segue.