Segundo executivo que participou de acordo de leniência com o Cade, lobista
de esquema de setor metroferroviário disse a ele que Edson Aparecido, hoje homem
forte do governo Alckmin, e Arnaldo Jardim eram beneficiários de comissões; eles
negam
FERNANDO GALLO , RICARDO CHAPOLA , FAUSTO MACEDO
- O Estado de S.Paulo
Em relatório entregue no dia 17 de abril ao Conselho Administrativo de Defesa
Econômica (Cade), o ex-diretor da Siemens Everton Rheinheimer afirma dispor de
"documentos que provam a existência de um forte esquema de corrupção no Estado
de São Paulo durante os governos (Mário) Covas, (Geraldo) Alckmin e (José)
Serra, e que tinha como objetivo principal o abastecimento do caixa 2 do PSDB e
do DEM".O ex-diretor da empresa alemã diz também que o hoje secretário da Casa Civil
do governo Geraldo Alckmin (PSDB), deputado licenciado Edson Aparecido (PSDB),
foi apontado pelo lobista Arthur Teixeira como recebedor de propina das
multinacionais suspeitas de participar do cartel dos trens em São Paulo entre os
anos de 1998 e 2008.
O ex-executivo, que é um dos seis lenientes que assinaram no mês seguinte um
acordo com o Cade em que a empresa alemã revela as ações do cartel de trens,
também cita o deputado Arnaldo Jardim (PPS-SP), aliado dos tucanos, como outro
beneficiário.
Trata-se do primeiro documento oficial que vem a público que faz referência a
supostas propinas pagas a políticos ligados a governos tucanos. Até agora, o
Ministério Público e a Polícia Federal apontavam suspeitas de corrupção que
envolviam apenas ex-diretores de estatais como a Companhia Paulista de Trens
Metropolitanos (CPTM).
As acusações do ex-diretor foram enviadas pelo Cade à Polícia Federal e
anexadas ao inquérito que investiga o cartel em São Paulo e no Distrito Federal.
No texto, Rheinheimer escreve que o cartel "é um esquema de corrupção de
grandes proporções, porque envolve as maiores empresas multinacionais do ramo
ferroviário como Alstom, Bombardier, Siemens e Caterpillar e os governos do
Estado de São Paulo e do Distrito Federal".
Proximidade. Outros quatro políticos são citados pelo
ex-diretor da Siemens como "envolvidos com a Procint". A Procint Projetos e
Consultoria Internacional, do lobista Arthur Teixeira, segundo o Ministério
Público e a Polícia Federal, é suspeita de intermediar propina a agentes
públicos.
O documento faz menção ao senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), e aos
secretários estaduais José Aníbal (Energia), Jurandir Fernandes (Transportes
Metropolitanos) e Rodrigo Garcia (Desenvolvimento Econômico).
Rheinheimer foi diretor da divisão de Transportes da Siemens, onde trabalhou
por 22 anos, até março de 2007.
Ele e outro leniente prestaram depoimento à Polícia Federal em regime de
colaboração premiada - em troca de eventual redução de pena ou até mesmo perdão
judicial, decidiram contar o que sabem do cartel. Esses depoimentos estão sob
sigilo.
Menções. Sobre Aparecido e Jardim, Rheinheimer sustenta em
se
u texto que "seus nomes foram mencionados pelo diretor-presidente da Procint,
Arthur Teixeira, como sendo os destinatários de parte da comissão paga pelas
empresas de sistemas (Alstom, Bombardier, Siemens, CAF, MGE, T'Trans, Temoinsa e
Tejofran) à Procint".
De Aloysio, Jurandir e Garcia, diz ter tido "a oportunidade de presenciar o
estreito relacionamento do diretor-presidente da Procint, Arthur Teixeira, com
estes políticos". Sobre Aníbal, anotou: "Tratava diretamente com seu assessor,
vice-prefeito de Mairiporã, Silvio Ranciaro".
Ele ainda apontou o vice-governador do Distrito Federal, Tadeu Filippelli
(PMDB), e o ex-governador do DF José Roberto Arruda como "políticos envolvidos
com a MGE Transportes (Caterpillar)". A MGE é apontada pelo Ministério Público e
pela Polícia Federal como a outra rota da propina, via subcontratações - a
empresa era fornecedora da Siemens e de outras companhias do cartel.
Rheinheimer diz ser o autor da carta anônima que deflagrou a investigação do
cartel dos trens, enviada em 2008 ao ombudsman da Siemens. Ele relata ter feito
as denúncias para se "defender de rumores sobre seu envolvimento neste
escândalo". O executivo assevera que, apesar de suas denúncias, a Siemens optou
por "abafar o caso".
Ameaça. No texto, ele se diz disposto a contar o que sabe,
mas sugere receber em contrapartida sua nomeação para um alto cargo na
mineradora Vale. (mais informações ao lado)
Rheinheimer afirma que queria induzir a Siemens a fazer uma autodenúncia ao
Cade para facilitar a obtenção de autorização judicial para execução dos
mandados de busca e apreensão nas outras empresas. Segundo ele, isso resolveria
"o maior problema do Ministério Público de São Paulo, que é o acesso às provas
para poder levar adiante suas investigações sobre corrupção ativa". "Além de
envolver muitos projetos e dezenas de pessoas, o esquema de corrupção se estende
por um longo período", escreveu.