A consultoria
também deu dinheiro, em menores quantidades, a outros políticos do PSDB
na campanha de 2010. Hoje ambos estão no primeiro escalão do governo
Geraldo Alckmin (PSDB)
Publicação: 30/11/2013 11:26
Atualização:
A Focco Tecnologia, empresa de ex-diretores da Companhia Paulista de
Trens Metropolitanos (CPTM) suspeitos de envolvimento com o cartel
metroferroviário em São Paulo, foi a segunda maior doadora da campanha
do vereador tucano Mário Covas Neto, o Zuzinha, em 2012.A consultoria também deu dinheiro, em menores quantidades, a outros
políticos do PSDB na campanha de 2010. Hoje ambos estão no primeiro
escalão do governo Geraldo Alckmin (PSDB). São eles o secretário
estadual de Meio Ambiente e deputado estadual licenciado Bruno Covas e o
secretário estadual de Energia e deputado federal licenciado, José
Aníbal.
Sócios da empresa, os ex-diretores da CPTM João Roberto
Zaniboni e Ademir Venâncio de Araújo foram indiciados pela Polícia
Federal sob suspeita de corrupção, lavagem de dinheiro, formação de
cartel e crime financeiro. Zaniboni foi condenado pela Justiça da Suíça
por lavagem de dinheiro.
A Focco já recebeu R$ 32,9 milhões do
governo paulista entre 2010 e 2013 por serviços de consultoria. Ela
assinou contratos para “supervisão de projetos” com CPTM, Metrô, Agência
Reguladora de Transportes do Estado (Artesp), Secretaria de Transportes
Metropolitanos e Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU). A
PF aponta Zaniboni e Araújo como “intermediários no pagamento de
propinas” para beneficiar cartel no sistema metroferroviário suspeito de
atuar nos governos tucanos de Mário Covas, Geraldo Alckmin e José
Serra.
Zuzinha e Bruno Covas são, respectivamente, filho e neto
do ex-governador Mário Covas. Este era o governador em 1998, ano em que a
multinacional alemã Siemens sustenta ter começado a operar o cartel no
setor metroferroviário do Estado. Covas morreu em 2001, foi sucedido
pelo então vice, Alckmin, atual governador, que terminou o seu mandato. A
Focco doou R$ 50 mil para Zuzinha em 2012, ano da primeira campanha do
filho de Covas. Era a segunda maior doadora do total de R$ 904,7 mil que
o vereador declarou ter recebido. Ele ficou em oitavo lugar nas
eleições, com 61 mil votos, e assim conquistou uma das 55 cadeiras do
Legislativo municipal.
Em 2010, a consultoria de Zaniboni e
Araújo já havia doado para as campanhas do sobrinho de Zuzinha, Bruno
Covas, e de José Aníbal. Bruno acabaria se tornando o deputado estadual
mais votado, com 239.150 votos. Ele contou com uma doação de R$ 2 mil e
Aníbal com uma de R$ 4 mil. O atual secretário de Energia do Estado
ainda recebeu uma doação de R$ 2 mil do consultor Arthur Teixeira,
apontado pelo Ministério Público como lobista do cartel. Aníbal foi
eleito como o 19.º deputado federal mais bem votado, com 170.957 votos.
Todos dizem que as doações foram regulares e atenderam às exigências da Justiça Eleitoral.
Desligamento
Zaniboni
e Araújo, sócios da Focco, foram os primeiros agentes públicos a serem
indiciados pela Polícia Federal no inquérito que investiga o cartel dos
trens - há outros indiciamentos envolvendo o cartel, mas no setor de
energia. Zaniboni foi diretor de Operações e Manutenção da CPTM entre
1999 e 2003, e Araújo foi diretor de Obras e Engenharia da estatal entre
1999 e 2001. Zaniboni se tornou sócio da Focco em 2008, quando já
estava fora da estatal do governo tucano. Após ter seu nome envolvido
com o escândalo do cartel, em agosto deste ano, ele deixou a sociedade
com Araújo.
Amizade
O vereador Mario
Covas Neto (PSDB) disse que é amigo de Ademir Venâncio de Araújo mas que
não tem “nenhum envolvimento” com a Focco. “É alguém tão querido que me
surpreendeu na campanha porque espontaneamente quis me ajudar. Mas nada
nos envolveu em negócios. Sempre foi relação social.”
Sobre o
indiciamento de Araújo, Zuzinha, como o vereador é conhecido, afirmou:
“Você não pode ir para uma campanha com uma bola de cristal e ver o que
vai acontecer adiante. Se amanhã ele for considerado culpado, que pague
as penas”. O secretário de Energia do Estado, José Aníbal, disse
conhecer Araújo mas negou ser seu amigo. “O Ademir circulava muito no
PSDB. Eu o conheço, mas não tenho intimidade. É um cara muito
sorridente, brincalhão.”
Aníbal disse que o consultor Arthur
Teixeira comprou um convite de um jantar que promoveu para arrecadar
fundos para a campanha eleitoral. O secretário disse ainda que suas
contas foram aprovadas em novembro de 2010, logo após a eleição.
Em
nota oficial divulgada na sexta-feira, dia 29, o secretário do Meio
Ambiente do Estado, Bruno Covas, disse não ter “contato nem relação
pessoal ou profissional” com Araújo ou João Roberto Zaniboni. “A doação
refere-se à compra de dois convites para jantar de arrecadação (de
campanha).” Covas afirmou que tomou conhecimento do indiciamento pela
imprensa e disse ser “fundamental apurar e punir rigorosamente toda
irregularidade”.
Eduardo Carnelós, advogado de Teixeira, repudiou
com veemência a suspeita sobre seu cliente, a quem a promotoria atribui
o papel de lobista.