Atacada diariamente pelo pensamento único da grande mídia, por grupos
de financistas e empresários, analistas econômicos e especialistas em
geral, largos setores do PMDB e até do PT, os seus principais partidos
aliados, com problemas sérios na economia e no Congresso, o noticiário
negativo do mensalão e tudo mais jogando contra, como explicar a cada
vez mais folgada liderança da presidente Dilma Rousseff nas pesquisas
para 2014 (no último Ibope, tinha mais intenções de voto do que o dobro
dos seus prováveis adversários somados)?
A cada nova pesquisa, esta é a pergunta que mais me fazem. Acho que a
causa desta aparente contradição é demográfica e geográfica: o lugar
onde moro e o meio social em que convivo é o mais crítico em relação ao
governo do PT desde a primeira eleição de Lula e o mais refratário à
revolução social que se deu no país nos últimos anos. Este Brasil velho e
o novo Brasil são dois países que não se cruzam.
O maior eleitorado, tanto de Dilma como de Lula, vive nas regiões
mais pobres e distantes do país, não costuma ler jornais nem acompanha
blogueiros limpinhos, e ainda tem, sim, maiores dificuldades de acesso à
educação e à saúde, mas sente que a sua vida melhorou na última década.
Por isso, quer a continuidade deste governo, como mostram todas as
pesquisas.
Enquanto a parte mais rica da população discute os aspectos
ideológicos da importação de cubanos para o Mais Médicos e critica os
programas sociais do governo, que chamam de assistencialistas, para quem
nunca teve assistência médica, nem acesso à casa própria, vivia sem
água e sem luz, sem renda e sem emprego, os governos petistas
representaram uma radical mudança em suas vidas.
Claro que todo mundo quer muito mais e melhor depois que as
necessidades básicas foram atendidas, tanto que, na mesma pesquisa
Ibope, 38% dos entrevistados responderam esperar que o presidente
"mudasse muita coisa". Creio que está correta a avaliação feita pelo
marqueteiro João Santana, o grande guru de Dilma: "A pesquisa é clara:
os brasileiros querem mudanças no governo, e não mudança de governo. A
magia está na preposição".
A maioria da população, que vive no Brasil real, não está muito
interessada em discutir o PIB, a balança comercial, o câmbio, os
mensalões, os cartéis e as máfias, mas quer saber se tem emprego e renda
para pagar suas contas no fim do mês, se tem escola para mandar seus
filhos e posto de saúde com médicos e remédios para os casos de
necessidade. Acho que isto ajuda a responder à pergunta do título, já
que em nenhum momento Dilma se afastou da sua prioridade de governar
para os mais necessitados e combater a miséria.
Para este largo contingente de eleitores, fica difícil trocar o certo
pelo duvidoso, até porque a mídia ainda não encontrou um candidato de
oposição para bancar e os que aí estão não conseguem dar qualquer
esperança, uma ideia ou proposta nova que seja, de que, com a vitória
deles, a vida dos brasileiros vai melhorar.
Muitos podem até não gostar do jeitão da presidente e do governo
dela, mas quando olham em volta, encontram o que? Serra infernizando a
vida de Aécio, e Marina e Eduardo, que disputam a mesma vaga, encantando
o pessoal da grana pesada de São Paulo, que não tem muitos votos, como
se sabe. Enquanto os quatro se limitarem a criticar Dilma, os números
das pesquisas não mudam.
Em 2005, quando estourou o escândalo do mensalão, tucanos acharam que
era só deixar Lula sangrar que logo o velho poder estaria de volta ao
Palácio do Planalto. Faltou combinar com o povo, que continua com Lula e
Dilma, como mostraram todas as últimas eleições.
Por falar nisso, os dois continuam sendo duas entidades numa só e
todos os esforços feitos ao longo de quase três anos para intriga-los ou
separá-los foram em vão. Talvez os nossos bravos analistas políticos
não saibam de um trato que Dilma e Lula fizeram logo no início do
governo dela.
A cada 15 dias, chova ou faça sol, os dois têm um encontro
particular, em Brasília ou São Paulo, para juntos fazerem uma análise da
situação e discutir os caminhos a seguir. Isto evita o fogo amigo das
corriolas de um e de outro e mata no nascedouro qualquer tentativa de
afastar criador e criatura. Até agora tem dado certo e pode nos ajudar a
entender melhor o segredo da renitente popularidade de Dilma Rousseff.