Serra deu sinais de que conduziria, se eleito, política exterior mais afinada com Washington
O tucano José Serra, na época governador de São Paulo, sugeriu aos diplomatas dos EUA, que não deveria mais declarar que tinha "relações especiais" com o governo Lula. (Foto:Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
São Paulo - O candidato derrotado à Presidência da República em 2010, José Serra (PSDB), sugeriu a diplomatas dos Estados Unidos em São Paulo que a Casa Branca não deveria voltar a declarar que tinha "relações especiais" com o governo Lula. Em uma conversa de 90 minutos, relatada em um dos telegramas vazados nesta quarta-feira (9) pelo Wikileaks junto a blogues brasileiros, Serra deu sinais de que conduziria, se eleito, política exterior mais afinada com Washington.
"(Serra) alertou que as referências que o governo dos EUA tem feito sobre uma 'relação especial' com o presidente Lula não soam bem em todos os segmentos no Brasil e podem ser manipuladas pelo PT", descreve o telegrama, segundo o blogue da MariaFrô.
Há ainda relatos de um jantar em 2009 do secretário assistente para o Hemisfério Ocidental do governo norte-americano, Arturo Valenzuela, com outras figuras, ligadas ou não ao governo paulista. São nominados o ex-ministro de Relações Exteriores, Celso Lafer, o ex-embaixador do Brasil nos EUA, Rubens Barbosa, o ex-ministro de Ciência e Tecnologia, Jose Goldemberg, o vice-presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais, Roberto Teixeira da Costa, e o então ombudsman do jornal Folha de S.Paulo, Carlos Eduardo Lins da Silva.
Serra declarou que o governo do PT estaria se radicalizando do ponto de vista ideológico, bem como ampliando a corrupção. Disse ainda que, em um governo de Dilma Rousseff, a gestão seria marcada por um populismo ainda mais acentuado do que o criticado pelos Estados Unidos em relação a governos como o de Hugo Chávez, na Venezuela, e de Cristina Kirchner, na Argentina.
O então governador de São Paulo fez ainda críticas à política externa do então ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. Mereceu ataque pontual a participação brasileira na crise política de Honduras posterior ao golpe de Estado que tirou Manoel Zelaya do poder. A única ressalva à política externa dos Estados Unidos foi direcionada à tarifa imposta ao etanol brasileiro.
Aposta em Marina
De acordo com o Gonzum, outro dos blogues participantes da divulgação do vazamento, há telegramas que indicam que Serra apostava em Marina Silva (PV) como trunfo para vencer Dilma nas eleições de 2010. "Observadores políticos e representantes partidários argumentam que há possibilidade do provável candidato do PSDB, José Serra, pedir à candidata do Partido Verde, Marina Silva, para ser a sua vice. Enquanto parece improvável que Marina Silva aceite tal papel, a maioria acredita que ela iria, no mínimo, apoiar José Serra no pleito", diz o documento.
Outro telegrama traz informes sobre uma conversa entre diplomatas e o ex-colunista da revista Veja, Diogo Mainardi. O comentarista ultraconservador relatou aos embaixadores que o próprio Serra acreditava que Marina Silva e o PV dariam seu apoio ao candidato da oposição no segundo turno. Na prática, os verdes permaneceram neutros na disputa