Alan Rodrigues e Bruna Cavalcanti
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Lula tem palestras agendadas na Europa, nos EUA e na China
O futuro profissional do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi definido nos últimos dias em uma suíte de luxo de um hotel cinco estrelas na zona sul de São Paulo. Acomodado no apartamento que tem diárias a R$ 630 e cercado por fiéis escudeiros – como a arquiteta e fundadora do PT Clara Ant e o ex-metalúrgico Paulo Okamoto –, Lula negociou com diretores de marketing de grandes empresas e representantes de institutos estrangeiros o ciclo de palestras que dará nos próximos meses. A estreia aconteceu no dia 2 de março, quando discursou para uma plateia de 900 funcionários da fabricante sul-coreana de eletrônicos LG. Na segunda-feira 14, o ex-presidente estará em Doha, no Catar, a convite da emissora de televisão Al Jazeera. Lula vai falar sobre a consolidação da democracia no Brasil e sobre os ventos que sopram por liberdade no mundo árabe. Isso é apenas o começo. Em abril, apresentará sua verve para empresários em Nova York, Madri e Londres e, em maio, embarca para Pequim com a missão de apontar a investidores chineses oportunidades de negócios no Brasil. “A demanda por palestras tem sido enorme”, diz Clara Ant. Em São Paulo, bancos, redes de supermercados e indústrias têxteis estão interessadas em ouvir o que Lula tem a dizer, mas por enquanto ele quer priorizar o mercado internacional.
Lula vai seguir o mesmo rumo de seu antecessor Fernando Henrique Cardoso, que descobriu nas palestras uma fonte de recursos altamente rentável. Em um bom ano, FHC faz 30 palestras, o que assegura a ele um faturamento de R$ 4,5 milhões. Lula deve cobrar mais. Na LG, ele recebeu R$ 200 mil. No Exterior, os contratos estão sendo fechados a US$ 150 mil, mais até do que o ex-presidente americano Bill Clinton, cotado a US$ 140 mil por uma hora de discurso. Lula vale mais por uma simples razão. Clinton deixou o poder há dez anos, o que significa que seu passe já não é tão cobiçado. Lula esteve no centro do poder até outro dia, se tornou celebridade internacional e elevou o Brasil à condição de protagonista no tabuleiro econômico mundial. “No quesito palestras, Lula é o nome mais esperado do momento”, diz Flávia Dias, sócia da agência Palavra Speakers Bureau, que tem no quadro de palestrantes pesos-pesados como o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco e o economista Maílson da Nóbrega, além de já ter representado Fernando Henrique Cardoso. Lula tem potencial para fazer uma pequena fortuna nos próximos anos. Se ele repetir a média de palestras anuais de FHC, seus rendimentos devem superar facilmente a casa dos R$ 6 milhões.
Além do aspecto financeiro, as palestras recolocarão Lula na cena política brasileira e internacional. Nas últimas décadas, poucas vezes o ex-presidente esteve tão distante dos holofotes quanto nos primeiros meses de 2011. O recolhimento a que se impôs Lula – para não fazer sombra à presidente Dilma e para não ser incomodado nas prolongadas férias – se transformou em incômodo. Para os amigos próximos, ele tem reclamado da dificuldade de se adaptar à nova rotina. Ricardo Kotscho, ex-assessor de imprensa e um de seus confidentes, ouviu um desses desabafos: “É como se você estivesse dirigindo a 300 por hora, desse um cavalo de pau e, de repente, o carro parasse no meio da estrada”, disse Lula sobre a desaceleração provocada pela ausência de poder.
De volta a São Bernardo do Campo, logo depois da transmissão da faixa presidencial, Lula teve de enfrentar problemas prosaicos, daqueles que afligem qualquer cidadão comum. As chuvas das últimas semanas fizeram estragos em seu apartamento de cobertura e uma goteira no meio da sala o tem tirado do sério. Graças às intempéries, a reforma do prédio com 300 metros quadrados onde está o Instituto de Pesquisas e Estudos de Cidadania (Ipec), em São Paulo, que na prática funcionará como o novo escritório do ex-presidente, também atrasou. Em meio a esses pequenos sobressaltos, Lula tem uma tarefa para lá de espinhosa. Nos próximos dias, ele vai participar de uma reunião da Executiva Nacional do PT para defender o retorno à legenda dos ex-dirigentes partidários Delúbio Soares e Silvinho Pereira, ambos abatidos pelo Mensalão. É Lula de volta com a corda toda à vida política nacional.
http://www.istoe.com.br/reportagens/128072_O+NOVO+LULA