Bombardeado por todos os lados na guerra pelo comando do PSDB (e pela candidatura a presidente em 2014), o ex-governador de São Paulo José Serra resolveu reagir com apelo aos aliados, publicado como artigo no jornal O Globo. O texto parece promissor ao falar da necessidade de uma oposição unida, com ideias consistentes sobre temas de relevância nacional e capaz de exercer um papel fiscalizador. Parece promissor, mas não é, porque revela um Serra preocupado somente com seu destino político e em traçar roteiros para se manter em evidência.
Há uma expressão futebolística que define bem a situação, o chamado “drible da vaca”: joga a bola para um lado, corre para o outro, mas, no fim, termina na mesma direção em que começou. Embora sinalize a importância do papel que a oposição deve ter, o tucano age de forma inversa, ao propor a radicalização do comportamento belicoso no lugar de uma atuação mais colaborativa com o governo em torno dos projetos de interesse da sociedade. É como se buscasse uma espécie de terceiro turno das eleições de 2010, perdidas justamente por conta desse viés de antagonismo a qualquer custo.
Serra diz que o PT abandonou suas origens classistas, mas isso é só para desenvolver uma difusa acusação ideológica. Insiste em alardear uma desindustrialização inexistente e aposta (vejam só!) no terrorismo sobre a inflação para acusar uma má gestão da economia — esquece-se dos 15 milhões de empregos gerados. Repete, enfim, a tática do “vale-tudo” que levou à última campanha presidencial.
Contudo, ao atirar contra o PT, o governo Lula e o recém-nascido governo Dilma Rousseff, o ex-governador mira adversários internos. De fato, a movimentação de Serra tem causado mais divisões às já fragmentadas oposições. Hoje, a liderança do PSDB está entre o senador mineiro Aécio Neves e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.
Aécio joga com sua juventude, carisma e a tentativa de destronar o califado paulista que manda na legenda desde sua fundação, em 1988. Já Alckmin tem usado a caneta de governador para desfazer boa parte da gestão de Serra, com o objetivo de se projetar para 2014 como representante das forças paulistas, grupo que tenta se agarrar ao controle do tucanato após três derrotas consecutivas em eleições presidenciais.
O DEM passa por processo de fragmentação distinto, mas com motivações similares: a saturação do modo de trabalho da oposição. O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, deve abandonar o partido. Tudo indica que fundará uma nova legenda que poderá desfalcar o DEM de algumas lideranças mais tradicionais, como Jorge Bornhausen, Guilherme Afif, Kátia Abreu e Marco Maciel. O maior indicativo de que a dissidência no DEM está relacionada a discordâncias sobre o comportamento político é a possibilidade de que, após as eleições de 2012, o novo partido passe a integrar a coalizão de apoio a Dilma. O que está em jogo para Kassab e seu grupo é a disputa para o governo paulista em 2014 e, para tanto, será necessária, pelo menos, uma alteração no tipo de oposição que o PSDB e o DEM vêm fazendo até aqui.
Trata-se de um momento importante para o amadurecimento da democracia brasileira: Serra personifica a prática de uma oposição belicosa, que imperou ao longo dos dois mandatos de Lula. O fim desse desgastado modelo pode ser positivo ao Brasil, um sinal de que discussões importantes — como as reformas política e tributária — serão amparadas na seriedade de quem se dispõe a trabalhar pelo país, acima das divergências partidárias ou pessoais. Um cenário, portanto, em que não há espaço para discursos enganosos.
José Dirceu, 64 anos, é advogado, ex-ministro da Casa Civil e membro do Diretório Nacional do PT
Há uma expressão futebolística que define bem a situação, o chamado “drible da vaca”: joga a bola para um lado, corre para o outro, mas, no fim, termina na mesma direção em que começou. Embora sinalize a importância do papel que a oposição deve ter, o tucano age de forma inversa, ao propor a radicalização do comportamento belicoso no lugar de uma atuação mais colaborativa com o governo em torno dos projetos de interesse da sociedade. É como se buscasse uma espécie de terceiro turno das eleições de 2010, perdidas justamente por conta desse viés de antagonismo a qualquer custo.
Serra diz que o PT abandonou suas origens classistas, mas isso é só para desenvolver uma difusa acusação ideológica. Insiste em alardear uma desindustrialização inexistente e aposta (vejam só!) no terrorismo sobre a inflação para acusar uma má gestão da economia — esquece-se dos 15 milhões de empregos gerados. Repete, enfim, a tática do “vale-tudo” que levou à última campanha presidencial.
Contudo, ao atirar contra o PT, o governo Lula e o recém-nascido governo Dilma Rousseff, o ex-governador mira adversários internos. De fato, a movimentação de Serra tem causado mais divisões às já fragmentadas oposições. Hoje, a liderança do PSDB está entre o senador mineiro Aécio Neves e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.
Aécio joga com sua juventude, carisma e a tentativa de destronar o califado paulista que manda na legenda desde sua fundação, em 1988. Já Alckmin tem usado a caneta de governador para desfazer boa parte da gestão de Serra, com o objetivo de se projetar para 2014 como representante das forças paulistas, grupo que tenta se agarrar ao controle do tucanato após três derrotas consecutivas em eleições presidenciais.
O DEM passa por processo de fragmentação distinto, mas com motivações similares: a saturação do modo de trabalho da oposição. O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, deve abandonar o partido. Tudo indica que fundará uma nova legenda que poderá desfalcar o DEM de algumas lideranças mais tradicionais, como Jorge Bornhausen, Guilherme Afif, Kátia Abreu e Marco Maciel. O maior indicativo de que a dissidência no DEM está relacionada a discordâncias sobre o comportamento político é a possibilidade de que, após as eleições de 2012, o novo partido passe a integrar a coalizão de apoio a Dilma. O que está em jogo para Kassab e seu grupo é a disputa para o governo paulista em 2014 e, para tanto, será necessária, pelo menos, uma alteração no tipo de oposição que o PSDB e o DEM vêm fazendo até aqui.
Trata-se de um momento importante para o amadurecimento da democracia brasileira: Serra personifica a prática de uma oposição belicosa, que imperou ao longo dos dois mandatos de Lula. O fim desse desgastado modelo pode ser positivo ao Brasil, um sinal de que discussões importantes — como as reformas política e tributária — serão amparadas na seriedade de quem se dispõe a trabalhar pelo país, acima das divergências partidárias ou pessoais. Um cenário, portanto, em que não há espaço para discursos enganosos.
José Dirceu, 64 anos, é advogado, ex-ministro da Casa Civil e membro do Diretório Nacional do PT