14 novembro 2014

Se vier o golpe, Lula e Dilma tem de ir às ruas e submeter a oposição aos ditames da Lei

 Por Davis Sena Filho Blog Palavra Livre



“Eles {demotucanos e imprensa} não sabiam da força que eu tinha na rua. Eu reuni o governo aqui e eu disse: "Olhe, vocês fiquem aqui porque essa gente vai me enfrentar é na rua". (Presidente Lula aos ministros, em 2005, antes de ir às ruas para evitar um golpe contra seu governo)

Alguns blogueiros, colunistas e articulistas considerados progressistas tem demonstrado muita preocupação com a direita partidária encabeçada pelo PSDB e com o sistema privado midiático controlado por meia dúzia de famílias, que não aceitaram até agora os resultados legítimos das eleições de 2014, que reconduziram, por intermédio do voto popular, a presidenta trabalhista, Dilma Rousseff, à cadeira da Presidência da República.

A preocupação faz sentido e não é à toa. Os jornalistas da blogosfera de esquerda conhecem a história do Brasil, seus antagonismos políticos, bem como seus contrastes regionais. Sobretudo tais profissionais reconhecem a força da direita e sua capacidade de mobilização de caráter golpista, a exemplo das tentativas e consolidações de golpes de estado nos anos de 1932, 1938, 1945, 1954, 1964 e, evidentemente, 2005, que a imprensa burguesa e de histórico golpista tratou logo de abafar o caso e deixá-lo para o esquecimento do tempo.

Contudo, há uma solução para estancar e combater tais crimes de ordens constitucionais e institucionais, geralmente protagonizados por setores das elites brasileiras de passados escravocratas e inconformados por não mais controlar os cofres do Governo Federal, cujas chaves das portas do Banco do Brasil, do BNDES, da Caixa, do Banco Central e do Ministério da Fazenda estão a ser controladas por políticos trabalhistas há 12 anos, sendo que o PT e seus aliados vão ficar mais quatro anos, a perfazer 16 anos no poder.

O antídoto contra golpes criminosos de estado se chama povo. Dilma e Lula se, porventura, considerarem que o mandato legal da presidenta está a correr perigo, a solução é ir às ruas, mobilizar o povo brasileiro, além da sociedade organizada em sindicatos de trabalhadores, entidades estudantis, associações de classes, como a OAB, a Fenaj e a ABI, bem como conquistar o apoio dos partidos de esquerda, de centro-esquerda e até mesmo os de centro, que se submetem aos ditames da democracia e da Constituição de 1988.

Quando magnatas bilionários de todas as mídias cruzadas e seus empregados de confiança, transformados em pitbulls desses oligopólios, teimam em não aceitar os resultados das eleições livres e legais ocorridas há menos de 15 dias, o melhor que o Governo Trabalhista tem de fazer é colocar as barbas de molho e ficar com um olho no gato e o outro no peixe do aquário.

A palavra impeachment está a ser propositalmente vulgarizada pelos áulicos da mídia de negócios privados. De tal forma que sistematizar tal palavra cantada na imprensa de mercado vai fazer com que parte da população brasileira tradicionalmente influenciada por segmento de alma golpista passe a considerar “normal” derrubar um governo constitucionalmente legal e depositário de 54,5 milhões de votos, conforme decisão independente das urnas.

Todavia, nunca se deve remediar ou tergiversar com a poderosa direita brasileira hoje capitaneada pelo sistema midiático privado, cujos donos são, sem dúvida alguma, os empresários de pensamento político, social e econômico mais atrasado do empresariado brasileiro, a superar, inclusive, setores conservadores que realizam suas atividades no mundo rural, exemplificadas no agronegócio.

Trata-se de um processo perigoso, porque o Brasil e a América Latina foram alvos de golpes belicamente violentos e sangrentos, no decorrer de 130 anos, geralmente perpetrados pela direita, apoiados e financiados pelos Estados Unidos, a terem suas embaixadas transformadas em bases da CIA.

Lamentável, pois, que mal terminaram as eleições presidenciais e a imprensa corporativa continua à espreita, como se fosse um felino à espera de dar um bote na presa. Não cabe mais no Brasil, um País que está a consolidar a democracia e o estado de direito, a efetivação de um processo draconiano, vampiresco, que são as tentativas de conspirações contra o Estado e o Governo.

A verdade é que existe uma fábrica de ilações constantes que visam a criminalização do Partido dos Trabalhadores e do Governo Trabalhista, além de se criar, diuturnamente, escândalos, denúncias e fofocas maledicentes que tem por finalidade demonizar a Presidência da República, porque o que está em jogo para a direita é a instabilidade institucional, e, consequentemente, a desmoralização do Governo.

E como conseguir esses intentos? Por intermédio da demonização de figuras importantes do Governo e de outros setores e poderes do Estado nacional. O alvo agora é a operação Lava-jato, que poderá implicar no envolvimento de figuras de proa, tanto do Governo quanto da oposição, que já sentiu calafrios na campanha de Aécio Neves à Presidência quando disseminaram a notícia de que o ex-presidente do PSDB, Sérgio Guerra, consta na lista da Lava-jato, como um dos beneficiados pela Petrobras.

Por causa de fatos como esses que a direita ainda não se lançou totalmente aos ataques, como o fizera a partir de 2005, por meio do “mensalão” do PT, cujo objetivo era sangrar o presidente Lula até ele ficar inelegível ou ser derrubado por um golpe ao estilo do Paraguai ou de Honduras, quando presidentes de esquerda foram derrubados por intermédio de chicanas judiciais ilegais de fundo golpistas, com o apoio dos Estados Unidos. Nada que surpreenda a humanidade, afinal se trata de uma potência belicamente invasora e financiadora de golpes e guerras.

A verdade é que até hoje o “mensalão” do PT não foi comprovado, bem como não foi ainda julgado o mensalão do PSDB, que neste ano completou dez anos de impunidade, com a cumplicidade de setores politizados à direita do MP e do Judiciário. Um absurdo.

Observemos também que a constante veiculação nas mídias da palavra impeachment é uma forma de preparar os setores mais reacionários da sociedade brasileira para ir às ruas, como já o fizeram agora há pouco quando pediram o impeachment de uma presidenta recém-eleita, que respeitou o jogo democrático e eleitoral.
Não só pediram o impedimento da mandatária trabalhista, bem como histericamente reivindicaram uma intervenção militar, que, segundo os radicais direitistas, não é um pedido de golpe de estado, mas, sim, um “direito” que consta na Constituição. Chamar essa conduta de cínica e infame é pouco para tanta iniquidade e falta de discernimento e compromisso com o País.

Por isso, afirmo: não se brinca com a direita, ainda mais a brasileira, proprietária de escravos por quase 400 anos, e que, em pleno ano de 2014 do século XXI, ainda é flagrada a cometer crimes de trabalho escravo, como confirmam as fiscalizações e os índices do Ministério do Trabalho, bem como algumas notícias nos próprios jornais defensores das “elites”. Covardia maior não há. Pode ter igual, mas não maior.

Lula estava completamente com razão quando deixou o Palácio do Planalto e foi às praças e às ruas falar ao povo e, com efeito, demarcar terreno e limites para a direita golpista, que tem a imprensa burguesa como sua ponta de lança, como ocorreu nos idos de 1964. Dilma e Lula não tem mais o direito de vacilar ou tergiversar quanto à efetivação do marco regulatório para os meios de comunicação — a Lei dos Meios.

O líder de massas e a mandatária brasileira sabem com quem estão a tratar. Não se brinca com escorpiões e tigres selvagens. A história comprova o que eu estou a falar e a lembrar. O marco regulatório, a Lei dos Meios protegerão a sociedade brasileira, as instituições republicanas e até mesmo os magnatas bilionários de todas as mídias cruzadas, que deixarão um pouco de conspirar e tratar de ganhar mais dinheiro. Por seu turno, se houver tentativa de golpe, Lula e Dilma tem de ir às ruas e submeter a oposição aos ditames da Lei. Igual a 2005. É isso aí.