Em campanha, presidente prometeu 'governo novo, ideias novas'; também disse que Dilma Rousseff iria ser "mais Dilma" no exercício do cargo; ficou claro que ela buscaria alternativas a escolhas do primeiro mandato; e que usaria sua própria intuição para resolver problemas e conflitos; decisão sobre novo ministério dentro de seu próprio tempo, sem conciliar com pressões de apoiadores e adversários, segue à risca o que ela mesma adiantou - e não rompe proposta diálogo; não entende quem não quer
De início, uma questão bastante pontual: Dilma não quer encerrar mais
cedo seu primeiro mandato. Ela não está obtendo, nem de aliados e muito
menos de adversários, a trégua de praxe para poder organizar a nova
etapa da administração. Enquanto nos Estados Unidos até a mídia,
considerada a mais avançada do planeta, concede 100 dias contados de
ausência de críticas a um presidente eleito, por aqui o que se tem são
ataques minuto a minuto até mesmo à legitimidade da vitória da
presidente. Foram 3,5 milhões de votos a mais, mas, na crítica do PSDB e
na decupagem dos resultados oficiais feitas por alguns jornais, parece
que todos saíram da região Nordeste e deveriam valer menos de 1.
Melhor do que renegar a soma dos sufrágios seria fazer proposta de
mudar o sistema eleitoral, para atribuir ponderação sobre o eleitorado
de cada Estado, como acontece, para repetir o exemplo, nos Estados
Unidos com seu sistema indireto de eleição presidencial. Importante: no
segundo turno, por mais de uma vez, Dilma lembrou que, no Brasil, cada
pessoa vale um voto – e era por isso que ela acreditava na vitória. Só
não ouviu quem não quis.
PRIMEIRO MANDATO ACABA EM 31 DE DEZEMBRO -
Interessada em não encerrar antes da hora determinada o seu primeiro
governo, que vai até o dia 31 de dezembro, a presidente demarcou em duas
entrevistas logo após sua vitória, nas emissoras Record e Globo, que
anunciaria seus novos ministros na segunda quinzena de novembro. "Depois
da reunião do G20", demarcou. De novo, quem não entendeu a informação
oficial, dada da boca da presidente, só pode ter sido por que não quis.
Aliados, sob o conforto da vitória, e adversários, na trincheira fria
da oposição, têm cobrado de Dilma pressa na definição dos nomes de seu
novo ministério. Pode-se cobrar, mas querer, nestas circunstâncias, que a
presidente faça o que se quer é um tanto de arrogância. Afinal, ela não
mandou recado, mas avisou que tomaria seu tempo para fazer as mudanças
na equipe. Caso a promessa tivesse sido diferente, algo como "agora que
ganhei, vou fazer tudo o que meus apoiadores e a oposição me mandarem
fazer", a frustração seria compreensível. Mas Dilma não enganou ninguém,
deixou claro, ao contrário, as suas datas. Por que o espanto?
Enquanto Dilma governa ao seu estilo, como ela mesma disse que faria,
não se tem notícia de que o mundo ou o Brasil tenham acabado. Ao
contrário, na economia nacional o que se vê são indicadores
absolutamente naturais, como a redução da taxa de inflação em outubro
sobre setembro, um leve aumento na produção industrial e a manutenção
nas taxas de emprego.
Neste quadro, Dilma deixou vazar que estuda alguns nomes para o lugar
de Guido Mantega no Ministério da Fazenda. Estão entre eles o do
ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles e o do ex-secretário
executivo da Fazenda Nelson Barbosa, mas não será mais surpresa se
Alexandre Tombini, presidente do BC, assumir o posto. Outra alternativa
igualmente poderá ser efetivada. Pode-se gostar ou não da escolha a ser
divulgada, mas que foi mesmo que obteve o direito de fazê-la? A pessoa
que teve seu nome mais teclado nas urnas eletrônicas tanto no primeiro,
como no segundo turno, de iniciais D.R., número 13 na tela.
O PT, 13, não apenas pode como deve, por ser o partido da presidente,
fazer as suas pressões por cargos e nomes. A oposição, mesmo sob o
risco de animar projetos antidemocráticos, tem o papel do ataque. Mas
não é função de Dilma ceder nem a um nem à outra. Lembre-se: ela
anunciou que Dilma seria mais Dilma a partir de agora.
Mesmo legítimas, as tentativas de pressionar a presidente mais se
parecem com iniciativas para sequestrar o mandato conseguido por Dilma
Rousseff – um novo período de quatro anos na Presidência que, de resto,
nem começou.
DIALOGAR NÃO É CEDER - Dilma também prometeu, isso é
fato, ouvir mais e dialogar mais com as forças políticas e a sociedade.
De modo institucional, tem recebido lideranças e partidos, reunindo
informações para fazer suas reflexões. Dialogar não significa,
necessariamente, fazer o que o outro queira. Se fosse assim, Dilma
também poderia exigir que, em lugar dela, seus interlocutores
entendessem suas posições e cedessem eles mesmo. Por que o que se deseja
é que apenas ela dê o passo atrás?
Na campanha, Dilma chegou a ser ironizada por ter anunciado que o
ministro Mantega deixaria o cargo no segundo governo, em respeito à
promessa de 'governo novo, ideias novas'. Foi ironizada em diferentes
setores da mídia tradicional. No PSDB acreditou-se que ali estava um
erro crucial, e logo o candidato Aécio Neves anunciou o ex-presidente do
BC Armínio Fraga como seu futuro ministro da Fazenda. O que os
eleitores acharam das duas estratégias ficou-se sabendo no dia 26 de
outubro. Será que Dilma precisa mesmo dizer a todos que a presidente
atual e futura, por delegação popular, é ela?