Engana-se quem pensar que as greves selvagens, os protestos violentos
e a baderna em geral vão parar depois da Copa. Toda a questão é
política e o principal objetivo é impedir a reeleição da presidente
Dilma Rousseff. De um ano para cá, desde as tais "jornadas de junho",
interesses variados se uniram para mostrar que a situação fugiu do
controle nas ruas e nos fundamentos econômicos, provocando o caos nas
grandes cidades, criando um clima de medo e revolta na população.
Se você repete todo dia que tudo vai mal e, depois, vai fazer uma
pesquisa perguntando como estão as coisas, claro que a maioria vai dizer
que as coisas vão mal. Se você só mostra problemas no governo federal e
omite ou minimiza os desmandos na administração estadual, a maioria vai
dizer que a presidente vai mal e o governador está muito bem.
Desta vez, o Partido da Mídia está muito mais organizado do que nas
eleições anteriores, preparou-se para o tudo ou nada, unido como nunca
no Instituto Millenium, e já começa a colher os frutos, como mostram as
últimas pesquisas que ela própria promove.
São as tais profecias que se auto realizam e não deveriam surpreender
ninguém os últimos números divulgados pelo Datafolha, mostrando a queda
de Dilma em direção ao piso de popularidade de junho do ano passado, no
auge das manifestações, enquanto os índices do governador Geraldo
Alckmin se mantém impávidos rumo à reeleição. A culpa de tudo, como se
lê no noticiário e ouve nas ruas, é do governo federal.
Claro que nada disso teria o mesmo resultado negativo para a situação
e positivo para a oposição se a economia estivesse indo bem. Aí juntou a
fome com a vontade de comer: deixando todos os flancos abertos na
economia, sem mostrar nenhuma capacidade de reação, o governo Dilma é
como aqueles times que recuam para garantir o resultado e pedem para
tomar um gol. Acabam tomando.
Não é que a mídia tenha recuperado seu velho poder, mas parece óbvio
que agora as condições concretas lhe são muito mais favoráveis para
acabar com a hegemonia petista. Os gastos desnecessários ou
superfaturados com a organização da Copa serviram apenas de pretexto
para as turmas do passe livre, dos sem-teto revolucionários ou dos
chantagistas sindicais, que agora resolveram reivindicar tudo de uma
vez, colocando o governo contra a parede.
Depende, é claro, de qual governo estamos falando. Se a greve é dos
motoristas que abandonam os ônibus atravessados no meio das ruas, um
problema municipal, a Polícia Militar fica só assistindo, sem importunar
ninguém. Mas se a greve é dos metroviários, um problema estadual, a
mesma polícia tem ordens para baixar o cacete e acabar com os piquetes
nas estações.
Este é o jogo e só não vê quem não quer ou tem algum interesse no resultado.
Em tempo: como a Copa está para começar e a política
já entrou em obsequioso recesso, vou aproveitar para dar uma folga aos
leitores nas próximas duas semanas, deixando o campo livre para meus
colegas do esporte. Até a volta.