No eixo Rio-São Paulo, adeptos do #naovaitercopa
aparecem em duas manifestações com menos de mil pessoas cada uma; black
blocks presentes; houve brigas na avenida Paulista, com confronto entre
PMs e manifestantes; mas carona em greves e atos sindicais não deu certo
do ponto de vista político; rodoviários do Rio, por exemplo, recuaram
para não serem confundidos com lúmpens mascarados; movimento não juntou
100 pessoas em Brasília; #copadascopas ganhou sem jogar; violência de
black blocs não tem respaldo nas ruas
247 – A partir das 17h desta quinta-feira 15, as
duas maiores cidades do Brasil voltaram a ficar reféns de minorias. Em
São Paulo e no Rio de Janeiro, avenidas vitais como a 23 de Maio e a
Presidente Vargas foram fechadas, respectivamente, por uma passeata de,
no máximo, cinco mil professores e pouco mais de mil manifestantes do
#naovaitercopa. Outra minoria, a dos PMs e bombeiros, praticamente criou
as condições para que, em Pernambuco, durante todo o dia, a capital
Recife viesse a ser saqueada e incendiada em razão da completa falta de
segurança. Até mesmo após a chegada das tropas da Força Nacional, a
cidade continuava mergulhada na mais absoluta intranquilidade, com
suspensão de aulas em todas as escolas e universidades. Um retrato
pronto e acabado do caos.
As três cidades somam mais de 20 milhões de habitantes, mas grupos
minúsculos conseguiram, mais uma vez, instalar um clima de tensão. Em
São Paulo, às 18h50, policiais militares prenderam 29 homens que tinha
máscaras de black blocs. Uma passeata com cerca de 2 mil professores já
se aproximava da Prefeitura da cidade, onde uma manifestação estava
programada. No Rio, os rodoviários em greve fizeram questão de não se
misturar com os manifestantes do #naovaitercopa, que rumavam, às 19h,
para a Prefeitura da cidade. Eram pouco mais de 600.
Na quinta-feira de protestos, tido como um dia de teste tanto para o
chamado movimento #naovaitercopa como para os adeptos do #copadascopas, o
que ficou claro, de início, é que o primeiro grupo é, efetivamente,
minúsculo. Houve farta convocação, mas a verdade é que por esta bandeira
específica pouca gente se mobilizou. Pegar carona em greves e passeatas
sindicais, para aproveitar o evento fazer quebra-quebras, nada tem a
ver com mobilização. É apenas o mais rasteiro oportunismo. Igualmente
não engrossa o #naovaitercopa o que houve em Recife, que mostrou o lado
explosivo da falta de segurança, com os saques e toda a violência.
Em Brasília, integrantes do Comitê Popular da Copa
saíram da Rodoviária do Plano Piloto, no centro, em direção ao Estádio
Nacional Mané Garrincha. O ato conta com reforço de partidos políticos e
sindicatos. A manifestação segue pacífica, sem incidentes. Segundo
Thiago Ávila, integrante do Comitê Popular da Copa, este é apenas o
primeiro de uma série de protestos na capital federal. “Planejamentos
atos em todos os dias de jogos em Brasília, sempre com um foco de
protesto diferente”, declarou.
Em Belo Horizonte, o protesto contra a Copa do Mundo
reúne cerca de mil pessoas. Com faixas com críticas ao torneio e
demandas relacionadas ao transporte público, entre outros temas, os
manifestantes se reuniram na praça Raul Soares e seguiram pela avenida
Amazonas até a praça Sete, epicentro da capital mineira. No início do
protesto, segundo a Polícia Militar, havia cerca de 600 pessoas, que se
juntaram a servidores municipais em greve que já esperavam na praça
Sete. Sindicalistas, servidores públicos e jovens ligados a movimentos
de demandas no transporte público estavam entre os manifestantes na
capital mineira.
Em Salvador, devido a fortes chuvas, a manifestação
contra os gastos com a Copa do Mundo atraiu poucos participantes.
Segundo Argemiro Ferreira de Almeida, um dos organizadores do ato e
integrante da Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa, o ato
ocorre na Praça da Piedade com a participação de um pequeno grupo.
Outros manifestantes devem seguir em passeata até a Arena Fonte Nova,
que vai sediar jogos do Mundial. Para Almeida, apesar dos poucos
participantes, o protesto é importante.
Em Recife, a violência esteve ligada diretamente à
greve deflagrada nesta terça-feira (13) por policiais e bombeiros
militares. Saques, arrastões, depredações e assaltos foram registrados
em praticamente todos os bairros da Região Metropolitana do Recife
(RMR). O comércio fechou as portas mais cedo e os funcionários foram
dispensados no final da manhã. A população evitou sair às ruas com medo
da violência.
Apesar de tropas da Força de Segurança Nacional e do Exército
iniciarem a ocupação de pontos estratégicos e iniciarem o patrulhamento
em diversos pontos da RMR, o clima de insegurança permaneceu. Na Avenida
Conde da Boa Vista, um dos principais pontos de comércio do Recife e
uma das principais artérias viárias da capital, no centro da cidade, as
lojas foram fechadas e a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) cobrou
medidas urgentes do governo para poder retomar as atividades.
No bairro da Imbiribeira, na Zona Sul do Recife, o comércio também
fechou as portas mais cedo. Em Caruaru, no Agreste de Pernambuco, boa
parte do comércio amanheceu fechada, bem como em outros municípios, como
Arcoverde, no Sertão de Pernambuco.
Os casos de maior repercussão, porém foram registrados na RMR. Na
tarde desta quarta-feira (14), um grupo promoveu saques e arrastões na
BR-101, no município de Abreu e Lima. Motoristas foram assaltados e
obrigados a pagar pedágio, lojas foram saqueadas e coletivos foram
depredados e pelo menos um ônibus acabou incendiado pelos
criminosos. Cerca de 300 pessoas participaram da ação.
Nesta quinta-feira a situação persistiu e se estendeu para o vizinho
município de Paulista. Em Jaboatão dos Guararapes guardas municipais
bloquearam o acesso ao bairro de Prazeres em função dos arrastões que
foram registrados no local. Até a tarde desta quinta-feira, cerca de 170
pessoas foram presas em diversos pontos da RMR por atos criminosos em
apenas dois dias de paralisação da Polícia Militar. A greve acabou no
início da noite.
Abaixo matéria da Agência Brasil sobre confronto em SP:
Manifestantes e PM entram em confronto em protesto contra gastos da Copa em SP
Daniel Mello - Repórter da Agência Brasil*
Policiais e manifestantes entraram em confronto por volta das 19h de
hoje (15) durante protesto contra os gastos da Copa do Mundo, em São
Paulo. A Polícia Militar disparou bombas de gás lacrimogêneo contra a
multidão, que caminhava pela Rua da Consolação, no centro da capital.
Houve bastante tumulto e corre-corre. Um grupo de manifestantes
pichou alguns portões e tentou invadir uma loja. Em resposta à ação da
polícia, militantes fizeram uma barricada na Rua da Consolação, ateando
fogo a sacos de lixo. Neste momento, os líderes do ato tentam continuar
com o protesto, que é parte do Dia Internacional de Lutas contra a Copa e
foi organizado pelo Comitê Popular da Copa em São Paulo.
O ato foi marcado para as 17h, na Praça do Ciclista, na Avenida
Paulista. Os manifestantes ficaram concentrados por cerca de duas horas
no local, até que saíram em caminhada pela Rua da Consolação, onde o
confronto teve início. O grupo pretende seguir em direção ao estádio do
Pacaembu, único estádio público da capital. Segundo a Polícia Militar,
cerca de 1,2 mil pessoas participam da manifestação.
Antes que a caminhada começasse, a Polícia Militar informou ter
detido 20 pessoas, suspeitas de aderir à tática black bloc, que estariam
portando coquetéis-molotovs e martelos. Os manifestantes foram detidos
na Rua Augusta e acredita-se que eles iriam participar do ato contra a
Copa.
* Colaborou Elaine Patricia Cruz