08 abril 2014

Lula: "só Constituinte pode fazer reforma política"

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Ex-presidente diz não ver "outro jeito" se não uma Constituinte exclusiva para fazer uma reforma política no País; "precisamos mudar o sistema de representação", defendeu Lula; em entrevista a blogueiros no Instituto Lula, em São Paulo, ele pediu logo de saída que entrevistadores contribuam para "acabar com essa boataria toda" sobre sua candidatura e cravou apoio à reeleição da presidente Dilma Rousseff: "ela é disparadamente a melhor pessoal para ganhar as eleições", disse; "Eu já cumpri minha tarefa, já me dou por realizado", acrescentou; sobre Petrobras, citou interesses políticos de quem quer criar CPI no Congresso - gente que "nunca quis criar CPI, para nada" - e disse que "não adianta comparar" valor da empresa hoje e na gestão FHC; "Falta o Brasil ir para a ofensiva"; siga ao vivo

247 - Três anos depois de ter saído da presidência, Lula concede na manhã desta terça-feira 8 entrevista a blogueiros brasileiros, na sede do Instituto Lula, em São Paulo. Em novembro de 2010, Lula foi o primeiro presidente a conceder coletiva a blogueiros. Logo de saída, o ex-presidente pede aos entrevistadores que contribuam para "acabar com essa boataria toda" e crava apoio à reeleição da presidente Dilma Rousseff: "ela é disparadamente a melhor pessoal para ganhar as eleições", disse. "Eu já cumpri minha tarefa, já me dou por realizado", acrescentou.
Sobre a Petrobras, o petista mencionou interesses políticos de quem quer criar a CPI no Congresso - gente que "nunca quis criar CPI, para nada" - e afirma que "não adianta comparar" o valor que a empresa tem hoje e durante o governo FHC. "Se ela vale R$ 98 bilhões hoje, ela valia R$ 15 bilhões durante o governo FHC", lembrou Lula. "O que as pessoas não aceitam? Que a gente fez o regime de partilha", acrescentou, sobre o modelo de extração de petróleo adotada para o pré-sal. "E muitos desses queriam privatizar a Petrobras há pouco tempo", atacou ainda o ex-presidente.
Lula reclamou mais ações do PT e de setores do governo em defesa da atual gestão. "Tem de levantar a cabeça e enfrentar para valer o debate político", conclamou. "Por exemplo, cadê o blog da Petrobras, que foi tão importante em 2009?", perguntou Lula, referindo-se ao período em que a estatal reproduzia em sua página na internet pedidos de entrevistas de jornalistas. Era a forma, na ocasião, de furar bolhas de especulação feitas por meio da mídia. O ex-presidente comentou sobre a recente queda nas ações da Petrobras: "Bolsa é assim mesmo. Mas ela não pode ser medida só pela bolsa, gente. Ela tem que ser reconhecida por seu conhecimento tecnológico".
O antecessor de Dilma falou sobre crescimento. "O País não está crescendo ao ritmo de 5% ao ano, mas faz onze anos que esse governo gera empregos e aumenta a massa salarial. Em que lugar do mundo isso está acontecendo?", questionou. Ele recordou seu tempo de sindicalista, "quando a inflação era de 80% ao mês, não era ao ano não", frisou. "Mas agora vejo o mesmo ministro daquele tempo (Maílson da Nóbrega) reclamando que a inflação está indo para o topo da meta. Ora, eu gostaria que a inflação ficasse em 2%, mas prefiro que se crie empregos do que, como pediram alguns, haja desemprego para combater a inflação".
Lula foi além. "Hoje dizem que falta mão de obra qualificada", registrou. "Que ótimo, porque vinte anos atrás engenheiro tinha de trabalhar fora do país, não tinha o que fazer aqui dentro. Agora, precisamos formar engenheiros". Ainda falando sobre a economia brasileira, o petista disse que "a imprensa não sabe o que está acontecendo no País". Ele ressaltou que a economia está aquém do que ele gostaria, e do que Dilma gostaria, e questionou: "mas quem está na frente do Brasil? O que nós fizemos em 11 anos, algumas revoluções não fizeram em 20", declarou.
Questionado sobre os problemas na área da saúde, Lula foi firme ao dizer que "não existe possibilidade de dar saúde de qualidade sem recursos". A declaração foi feita depois de uma crítica sobre o fim da CPMF. "A saúde custa caro, o médico custa caro, precisa de equipamentos e laboratórios para que todos tenham acesso. E o SUS é motivo de orgulho para o País", disse o petista. Ele criticou ainda que só são divulgadas "coisas ruins" da saúde. "Só vão atrás de quem está morrendo, ninguém tira foto de quem sai com vida. Mas tem muita coisa boa na saúde também", disse.
Ao responder uma pergunta feita pelo Twitter sobre as eleições no Rio de Janeiro, Lula afirmou, sobre a candidatura do senador Lindbergh Farias (PT) no estado: "Eu acho que é para valer". O ex-presidente, que ressaltou ter uma "profunda relação" com o candidato do PMDB, Luiz Fernando Pezão, acrescentou que Lindbergh "não tem nada a perder, só tem a ganhar". "Ele acha que é o momento dele, e eu acho que ele é um candidato bom, pode tomar cuidado que ele vai crescer e pode até ganhar as eleições", analisou.
Lula também comparou o acesso de crédito que o País tem hoje e tinha em 2002, quando ele venceu pela primeira vez as eleições presidenciais. "Em março de 2002, o Brasil só tinha R$ 380 bilhões disponibilizados para crédito em todo o sistema financeiro. Hoje, esse mesmo Brasil tem R$ 2,7 trilhões. Hoje, o pobre consegue chegar no banco e pegar dinheiro sem ser visto como bandido. Esse Brasil nunca ficou tão orgulhoso de si como nos últimos 11 anos", disse.
O ex-presidente apresentou suas ideias para uma reforma política. "Estou convencido de que só uma Constituinte exclusiva pode fazer a reforma política", cravou ele. "Eu sinceramente acho que não tem outro jeito", acrescentou. "Esse Congresso não fará, não tem condições de fazer, seria contrariar sua natureza", opinou Lula. Para ele, "a reforma política é a mais importante de todas". O petista defendeu que é preciso "mudar o sistema de representação" no País.