13 março 2014

Foto desnuda a classe política que nós elegemos


Blog Balaio do Kotschoagencia Foto desnuda a classe política que nós elegemos
Nada resume melhor o atual momento político no país do que a foto acima, registrando para a posteridade um momento sublime do Congresso Nacional, na noite de terça-feira. Seria algo absolutamente normal numa democracia, se os parlamentares flagrados num momento de euforia juvenil, após derrotar o governo numa votação, fossem da oposição. Só que a maioria deles pertence à base aliada do governo Dilma.
Na dança do bumba meu boi em que se transformou o plenário da Câmara, ninguém é mais de ninguém, e entramos naquele clima de salve-se quem puder, em que os derrotados, no final do espetáculo, acabam sendo sempre os mesmos, ou seja, nós eleitores, que escolhemos esta gente alegre para nos representar.
A coitada da bancada da oposição, com seus 90 deputados, não consegue aprovar sozinha nem voto de condolências. A acachapante derrota sofrida pelo governo por 267 votos ( 158 deles de deputados governistas) a 28, ao ver aprovada a proposta de criação de uma comissão externa para investigar irregularidades na Petrobras, foi comandada pelo PMDB, o maior partido aliado, que garantiu 58 votos dos seus 75 deputados que estavam no plenário, sob o comando de Eduardo Cunha, o líder da rebelião armada contra a presidente Dilma, que estava no Chile. Outros "aliados" que fizeram a festa da oposição foram PTB, PSC, PR e PSD.
Reparem bem na foto: mesmo que seus partidos, a começar pelo PMDB, apoiem oficialmente a reeleição da candidata do PT, alguém pode imaginar só uma destas excelências de braços erguidos e punhos cerrados, comemorando aos gritos a derrota do governo, vá mesmo fazer campanha para Dilma em seus Estados?
Por mais que não se acredite num rompimento formal do PMDB de Michel Temer, outro derrotado da noite, com o PT de Dilma, sempre é bom lembrar o que aconteceu nas eleições presidenciais de 2002.
Na sucessão de Fernando Henrique Cardoso, o PMDB decidiu oficialmente apoiar o tucano José Serra, candidato do governo, e até indicou a vice, deputada Rita Camata, do Espírito Santo. Ao longo da campanha, no entanto, vários diretórios estaduais do PMDB resolveram apoiar Lula, que acabou conquistando sua primeira vitória após três tentativas frustradas.
Pode ser que agora a presidente Dilma e seus principais auxiliares caiam na real e percebam que o problema não está só em Eduardo Cunha, um parlamentar de muitos negócios e interesses, que catalisou o descontentamento de amplos setores da antiga base aliada por não suportarem mais a onipotência do Palácio do Planalto baseada nas pesquisas favoráveis. Reunida durante três horas antes da votação, a bancada do PMDB na Câmara deu total apoio ao seu líder e fez novos ataques ao PT e ao governo.
Ficou mais uma vez evidente a falta de articulação politica do governo, cujas principais lideranças mantêm um obsequioso silêncio, deixando a presidente Dilma solta no espaço e desinformada a ponto de afirmar em Santiago que "o PMDB só me dá alegrias".
A goleada sofrida na terça-feira pode ter sido apenas a primeira derrota imposta ao governo, um aviso de que o jogo será pesado daqui para a frente. Cunha e sua turma podem ter gostado da brincadeira e já preparam novas cascas de bananas, como a convocação de ministros e da presidente da Petrobras. O pior de tudo é que não há o menor clima para votar o marco civil da internet, principal projeto do governo em discussão no Congresso, que os rebelados querem derrubar a qualquer preço, atendendo aos interesses de grandes empresas do setor.
Nestas horas, nunca é demais lembrar a célebre frase de Ulysses Guimarães, um líder político como não há mais, que ao ouvir de um colega que aquele era o pior Congresso que o país já tivera, advertiu: "Espere para o ver o próximo...".
Não nos esqueçamos que dia 5 de outubro temos eleições gerais, e não só para presidente da República. É a hora em que os eleitores podem dar a volta por cima e mandar muitos nobres parlamentares de volta para casa.