16 setembro 2006


CARTA CAPITAL FAZ ANÁLISE DO PT NAS ELEIÇÕES

PT vai eleger em outubro uma bancada maior na Câmara, mostra estudo
Ao contrário da maioria das projeções, um estudo do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro) mostra que o PT vai eleger em outubro uma bancada maior na Câmara. Segundo a pesquisa o partido deve eleger até 105 deputados federais, disse o editor-executivo da revista Carta Capital, Maurício Dias, em entrevista a Paulo Henrique Amorim nesta sexta-feira, dia 15 (clique aqui para ouvir). O estudo mostra que há um casamento entre a eleição para presidente a eleição proporcional.
A bancada do PSDB deve crescer 5%, puxada pela votação de Geraldo Alckmin. O PFL deve manter a atual bancada, enquanto o PP “desaparece lentamente”, assim como o PMDB, explicou Maurício Dias.

O jornalista explicou que o PT cresce ao “ocupar o espaço da esquerda trabalhista, jogando o PSDB para a direita”. Dessa maneira, o PMDB fica no centro.

Leia a íntegra da entrevista com o jornalista Maurício Dias:

Paulo Henrique Amorim: Maurício, a pesquisa é sobre o Congresso ou a Câmara?

Maurício Dias: A Câmara dos Deputados. É um estudo feito pelos professores Fabiano Santos e Alcir Almeida, do Núcleo de Estudos Sobre o Congresso do Iuperj. A surpresa deste estudo, que foi feito em maio mas está sendo divulgado agora, é que todas as análises sobre a votação proporcional, em função da crise do caixa dois, projetavam uma queda muito grande para a bancada do PT, que elegeu 91 deputados em 2002. Essa associação da queda, além de estar apoiada na suposição de que haveria um impacto grande da crise na eleição, tem uma relação com o fato que todo mundo casa eleição de deputados com eleição estadual. O Fabiano fez um estudo a partir dos fatores nacionais, ou seja, eleição presidencial influenciando na eleição proporcional. Ele tem uma referência muito boa que é 98, com o presidente Fernando Henrique, o PSDB cresceu muito. Em 2002 o PT cresceu muito. Ele não acredita que haja uma desvinculação – a imagem do presidente Lula está muito vinculada ao PT, por mais que tenham escondido a estrela, o vermelho. Ele (Fabiano) faz uma projeção mínima: ou a bancada vai se repetir, com 91 deputados, e pode chegar até 105.

Paulo Henrique Amorim: A bancada está hoje em 91?

Maurício Dias: Hoje não. Com a migração para o Psol está em 82. Acontece que ele não vê racionalidade nas análises que vêem impacto negativo na bancada do PT em função das denúncias de corrupção e impacto positivo na do PMDB. Ele não vê por que em função de ética você sai do PT e corre para o PMDB, que não é necessariamente um partido ético – não digo que seja antiético – mas não tem como identidade a bandeira da moralidade e da ética.

Paulo Henrique Amorim: E por extensão nem para o PSDB?

Maurício Dias: Nem para o PSDB. O PSDB vai crescer 5% em função da votação do Alckmin, ele projeta uma votação de 30%. Essa análise é feita em cima da suposição de que o Lula ganha no primeiro turno. Resta também outra suposição – que a corrupção não faz diferenciação entre os partidos na mente do eleitor.

Paulo Henrique Amorim: É mais ou menos o que o Montenegro já tinha descoberto através de uma pesquisa do Ibope, né?

Maurício Dias: Pois é. Além de tudo o seguinte - isso não é da pesquisa, é uma dedução que eu faço – que na verdade inflaram uma crise que tem mais de moralismo do que ética. Está mais para Lacerda e FHC que para Platão e São Tomás. O resumo bom seria esse. Além de tudo, o PMDB vem caindo sistematicamente. Ele mostra também uma estabilização na votação da Câmara de cinco grandes partidos: o PT, o PMDB, o PSDB, o PFL e o PP. Desses todos o PFL tem mantido, PMDB tem mantido, PT tem crescido, o PSDB vai crescer nesta eleição e o PP está desaparecendo lentamente. Esses são os chamados partidos fortes, que têm no mínimo 10% da bancada da Câmara.

Paulo Henrique Amorim: E desses quem está em crise?

Maurício Dias: Quem está em crise brava é o PMDB porque, no entender dele, ocupou um espaço de esquerda trabalhista. Isso jogou o PSDB para a direita. É o partido hoje que tem mais confiança do eleitor conservador. Ele acha inclusive que entendeu mais essa posição do PSDB no espectro político foi o ex-presidente Fernando Henrique. Qual é o problema do PMDB? Porque a esquerda, ocupada pelo PT, a direita, pelo PSDB, e o PMDB ficou no centro. A lógica da política partidária no Brasil, eleitoral, é centrípeta, é dos extremos para o centro. E o PMDB não tem nada o que fazer, não sabe o que ocupar, então, fica nesse centro sendo namorado pela direita e pela esquerda.

Paulo Henrique Amorim: E o PFL? Qual é o destino do PFL?

Maurício Dias: O PSDB é um partido conservador, não tem vínculos com a ditadura militar, com o autoritarismo militar. O PFL e o PP têm, eles dois nasceram, são da costela da Arena, que era o partido que sustentava os generais. Essa é a posição mais reacionária do espectro político. Agora, o PFL tem mantido uma votação. Agora, a PP vai se esvaindo, assim como o PMDB também.

Paulo Henrique Amorim: Que interessante isso.

Maurício Dias: É uma análise interessante, que tem uma racionalidade. As outras análises são meio à base de suposição.

Paulo Henrique Amorim: O fato de esse estudo ter sido feito em maio, os últimos acontecimentos o alterariam ou você acha que as condições básicas estão mantidas?

Maurício Dias: O Marcos Coimbra, do Vox Populi, me disse isso na matéria...

Paulo Henrique Amorim: Isso que você vai dizer agora está na matéria da Carta Capital?

Maurício Dias: Ele não é tão otimista quanto o estudo feito pelo professor Fabiano. Mas ele acha que aquele desastre anunciado que, aliás, eu expresso com a famosa frase do presidente do PFL, o senador Jorge Bornhausen, você se lembra dela?

Paulo Henrique Amorim: Qual?

Maurício Dias: “Ainda bem que essa raça vai acabar”.

Paulo Henrique Amorim: Interessante é que ele abandonou a política. Ele não é candidato, não tem filho candidato. A bandeira dele, em Santa Catarina, afogou-se.

Maurício Dias: Afogou-se, exatamente. Voltando à sua pergunta, pode ocorrer, talvez não com a mesma intensidade, o que ocorreu na eleição de 2002. Nos últimos dez dias, lembra o Marcos Coimbra, o PT cresceu. O Nilmário Miranda, a dez dias da eleição, tinha 12% e chegou a 30%. A Serys Slhessarenko, do PT, lá no Mato Grosso, foi eleita senadora ganhando do emblemático Dante de Oliveira. O mesmo aconteceu também com a Ana Júlia, no Pará. Todos dispararam. Eu achei muito curioso, inclusive, não estou fazendo aqui nenhum vaticínio, mas a pesquisa do Ibope mostra o crescimento do Mercadante em São Paulo. Você viu que ele cresceu 7 pontos.

Paulo Henrique Amorim: Mas o Serra tem uma vantagem muito grande.

Maurício Dias: Não Paulo, se você olhar, são 7 pontos a vantagem do Serra sobre os outros. Não é tão mais. Não estou dizendo que o Serra não vai ganhar no primeiro turno. Estou dizendo que em função dessa lógica de que o PT tem tradicionalmente uma chegada muito forte, esse crescimento do Mercadante alerta para essa possibilidade. Mas não quer dizer que isso vai ocorrer.

Paulo Henrique Amorim: Ou seja, você acha que, em suma, o estudo do Iuperj demonstra que a “crise da podridão”, segundo Fernando Henrique Cardoso, o eleitor não tomou conhecimento dela?

Maurício Dias: Não há nenhum herdeiro disso. O PSDB, que empunhou essa suposta bandeira da ética, ou mesmo os barões do PFL baiano também não são herdeiros.

Paulo Henrique Amorim: E o PFL baiano vive uma situação muito peculiar que é a troca de comando do Antônio Carlos para o Paulo Souto.

Maurício Dias: Isso também é um outro fator interessante.

Paulo Henrique Amorim: Se é que não vai haver mais ainda com a eleição de um senador que seja da corrente direta do Antônio Carlos, né?

Maurício Dias: O fato é que está dando uma balançada. Agora, ele acompanhou todas as projeções das eleições após 1990. E todas as projeções feitas erravam porque nunca consideravam o crescimento do PT. Desde 1982 vem crescendo. É possível que o partido possa repetir a bancada e deixar apenas ter perdido o que poderia ter ganhado. A crise pode ter tirado, talvez, a perspectiva de crescer muito mais. O Montenegro acha, de qualquer maneira, que a bancada vai cair, o Montenegro do Ibope. Mas ele já refaz um pouco aquela visão de que o partido sofreu um impacto com repercussão nos próximos 30 anos. Ele acha que tem impacto, não vai fazer a mesma bancada, não acredita também que será um desastre, aquilo que se prenunciava, aquelas nuvens negras que ficaram em cima do governo e do PT no ano passado.

Paulo Henrique Amorim: A chave da questão é saber se o PT repete a bancada de 91 deputados ou não?

Maurício Dias: Exatamente. E esse estudo projeta isso ou até um pouco mais, até 105 deputados.

Paulo Henrique Amorim: E você que está aí no Rio, o que você está achando do movimento aí: o Sérgio Cabral está absoluto ou a Denise (Frossard) está subindo?

Maurício Dias: A Denise está em viés de alta. E o seguinte: se ela for para o segundo turno, os líderes políticos acreditam que ela tem grande chance de ganhar. E dizem uma coisa: apoio do presidente Lula o Sérgio Cabral não terá.

Paulo Henrique Amorim: Por quê? Porque Sérgio não o apoiou?

Maurício Dias: Não o apoiou, exatamente. Além de tudo, o Sérgio está fazendo uma campanha forte para a eleição do senado do Dornelles. A candidata apoiada pelo governo é Jandira Feghali, que está na frente.

Paulo Henrique Amorim: Está empatada ou está na frente?

Maurício Dias: Está na frente. Está seis pontos à frente, mas já teve muito mais. E o Sérgio Cabral caiu de cabeça na eleição do Dornelles. E o César Maia, com a Denise Frossard, vem correndo por fora. E agora três pontos percentuais separam a existência do fim da eleição no segundo turno para a existência do segundo turno. Está quase dentro da margem de erro.