06 agosto 2006

As lições de Zuzu Angel

Autor: Renan Calheiros
A pré-estréia do filme Zuzu Angel, no auditório Petrônio Portella, do Senado Federal, foi emocionante. O filme, sobre a luta da estilista mineira para recuperar o corpo do filho torturado e morto durante a ditadura militar, retrata um período triste e amargo da vida nacional. Um período que ainda permanece meio obscuro e que toda a sociedade tem o direito - e o dever - de conhecer de perto, até para não voltarmos a tropeçar nos mesmos erros do passado. Pois a pré-estréia de Zuzu Angel no Senado não poderia ser mais bem-vinda. Afinal, a história da estilista e do Congresso Nacional se fundem na luta incansável pela redemocratização do país e pela recuperação dos plenos direitos de nossos cidadãos. O filme de Sérgio Rezende expõe, pela primeira vez, ao grande público todo o drama de Zuzu Angel e de seu filho Stuart Edgar Angel Jones, militante do MR-8 preso e morto depois de barbaramente torturado em maio de 1971. Após ler o relato de uma testemunha sobre as circunstâncias da morte de Stuart, Zuleika Angel Jones passou cinco anos em busca do corpo do filho e da verdade sobre sua morte. Apelou a atrizes famosas que eram suas clientes, como Joan Crawford, Liza Minelli e Kim Novak, ao secretário de Estado Henry Kissinger e ao senador Ted Kennedy, já que Stuart era filho de pai norte-americano e tinha dupla nacionalidade. Zuzu deixou com o amigo Chico Buarque de Holanda uma carta na qual afirmava que, se alguma coisa lhe acontecesse, seria um atentado. Uma semana depois, morreu em circunstâncias misteriosas - teve o automóvel fechado por um veículo não identificado na madrugada de 14 de junho de 1976. Essa é uma das muitas histórias trágicas da época que permanecem mal explicadas. Claro que a anistia ampla, geral e irrestrita passou uma borracha sobre o período. Mas as famílias têm todo o direito de saber o que aconteceu aos seus entes queridos e de conhecer o destino de seus corpos. Temos, todos, o direito de conhecer nossa história, em seus episódios mais gloriosos ou mais sombrios. Como ministro da Justiça, criei a primeira comissão de anistia, que analisa até hoje os benefícios indenizatórios aos perseguidos pelo regime de exceção. Em 2002, relatei no Senado o projeto que regulamentou o pagamento dos benefícios. Há mais de 50 mil pedidos de indenização em análise. Precisamos acertar contas com o passado. Não é o caso de buscar responsáveis - como disse, houve uma anistia total, uma pacificação do país. Trata-se apenas de esclarecer a verdade e, quando for o caso, de indenizar as famílias por suas perdas. Esse sentimento de resgate de nossa história ficou bem claro durante a pré-estréia de Zuzu Angel, que teve, entre outros convidados, o vice-presidente José Alencar, a primeira-dama, Marisa Letícia, a presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Ellen Gracie, e as atrizes Luana Piovani e Patrícia Pillar, que interpreta de forma magnífica a estilista Zuzu Angel. Foi em homenagem à amiga Zuzu que Chico Buarque compôs, em parceria com Miltinho, do MPB-4, a belíssima “Angélica”: “...Quem é essa mulher, que só queria embalar seu filho, que mora na escuridão do mar...”. É o que agora o Brasil inteiro vai saber.


ZUZU ANGEL - O Filme
De: http://wwws.br.warnerbros.com/zuzuangel/
Produzido por Joaquim Vaz de Carvalho, Zuzu Angel aborda os anos 60 que viram o mundo de pernas pro ar, transformando todos os grupos sociais. No Brasil, a carreira da estilista que leva o nome do longa começa a deslanchar, enquanto seu filho Stuart ingressa no movimento estudantil, contrário à ditadura militar então vigente. As diferenças ideológicas entre mãe e filho são profundas. Ele lutando pela revolução socialista. Ela, uma empresária. Stuart é preso, torturado e morto. Inicia-se então o périplo de Zuzu pela libertação do filho e uma vez revelada sua morte, em busca de seu corpo. Suas manifestações ecoaram no país, exterior e em seu próprio trabalho na moda. A cruzada de Zuzu, interpretada por Patrícia Pillar, expõe as vísceras da repressão e incomoda tanto que tanto que, certa noite, em um estranho desastre de carro, ela tem o mesmo destino do filho. Além de Patrícia Pillar, Daniel de Oliveira, Luana Piovani, Antônio Pitanga (policial), Othon Bastos (brigadeiro) e Alexandre Borges fazem parte do elenco escalado pelo mesmo diretor do filme Guerra de Canudos. Com roteiro feito a quatro mãos - Marcos Bernstein e Sérgio Rezende - Zuzu Angel estreou oficialmente ontem e está em cartaz nas principais salas da Sétima Arte do país. Mais informações podem ser conferidas no endereço eletrônico