20 março 2006

A MÍDIA SE VENDE

PF suspeita de compra de reportagem da IstoÉ por
Arcanjo
Da Redação,
19/03/2006 - 23:11h


A Polícia Federal vai retomar investigação sobre "indício de ocorrência de achaque" no caso de uma reportagem atribuída à "IstoÉ" e jamais publicada pela revista, a qual apontava que o criminoso João Arcanjo Ribeiro teria financiado campanhas do senador Antero Paes de Barros e do ex-governador tucano de Mato Grosso, Dante de Oliveira (1995 a 2002). A informação foi divulgada neste domingo pelo jornal “Folha de S.Paulo”. Arcanjo se encontra preso em Cuiabá, após cumprida a extradição do Uruguai. Um fax com a cópia da reportagem foi apreendida pela PF em janeiro de 2003 na casa de Arcanjo em Cuiabá. Daí a suspeita de que ele, acusado de chefiar o crime organizado em Mato Grosso, possa ter pago para a reportagem não sair. A revista não respondeu ao pedido de entrevista sobre o caso. Nesta semana, o jornal informa que localizou a cópia do fax anexada a um processo no qual Arcanjo foi condenado a 37 anos de prisão por lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e crime contra o sistema financeiro. O Olhar Direto teve acesso à cópia da reportagem e a publicou na íntegra. O senador Antero Paes de Barros negou ter desaparecido com 172 documentos da CPI do Banestado e ter recebido dinheiro para campanha de João Arcanjo Ribeiro, o "comendador". Antero também afirmou que nunca protegeu Arcanjo. "O ofício não existia. Então eu expedia um ofício para depois desaparecer com ele? Tem lógica? [Essa acusação] é coisa de bandido junto com juiz de toga petista" - afirmou Antero. Por meio de sua assessoria, o deputado José Mentor (PT-SP) confirmou que desapareceram 172 ofícios da CPI, mas afirmou que nunca atribui a responsabilidade a Antero, como disse o juiz Julier Sebastião da Silva, em decisão de julho de 2005. Mentor disse não ter afirmado que Antero protegeu Arcanjo, como também relata o juiz. O único questionamento do petista é que o senador tucano terminou a CPI dias antes do depoimento de Arcanjo, então preso no Uruguai em 2004. O juiz Silva não atendeu a imprensa após o depoimento de João Arcanjo. Questionando sobre a razão de o juiz ter destacado a acusação de Mentor no processo contra Arcanjo, Antero respondeu: "Ele chamou a atenção para isso porque é um juiz petista. Ele fez isso depois que perderam as eleições de 2004 para a gente" - disse Antero, que diz ter entrado com queixa-crime contra o juiz no TRF. O deputado petista José Mentor (SP) acusa o senador tucano Antero Paes de Barros de proteger o "comendador" João Arcanjo Ribeiro, acusado de comandar o crime organizado em Mato Grosso. As afirmações são do juiz Julier Sebastião da Silva, que recebeu de Mentor um parecer no qual o deputado afirma que o senador protegeu Arcanjo nas investigações da CPI do Banestado. De acordo com Mentor, Antero desapareceu com 172 ofícios que tinham "informações sigilosas bancárias, fiscais e telefônicas". A CPI acabou no início de 2005 sem relatório final. Mentor foi o relator da CPI. Antero presidia a comissão, aberta para apurar envio ilegal de dinheiro ao exterior. Preso, o "comendador" depôs nesta sexta na Justiça Federal em relação a este processo, mas manteve-se em silêncio no interrogatório. Arcanjo já foi condenado a 37 anos por formação de quadrilha e a sete anos por porte ilegal e contrabando de armas. Responde agora por crime contra o sistema financeiro. A acusação de Mentor contra Antero foi destacada pelo juiz em uma decisão tomada em junho de 2005. Silva decidiu que a defesa de Arcanjo poderia ter acesso ao parecer de Mentor e, ao tomar a decisão, fez um relatório a respeito. "Mentor sustenta que o presidente da referida comissão parlamentar [Antero] obstruiu os trabalhos de investigação, protegendo o réu João Arcanjo Ribeiro e demais pessoas físicas e jurídicas que lhe eram vinculadas", informou o juiz, que também afirmou que os fatos relatados pelo deputado "configuram em tese crime e precisam ser apurados". Em seguida, acrescenta que "este juízo registrou a presença de dinheiro da organização criminosa liderada pelo citado acusado [Arcanjo] nas campanhas do senador Antero Paes de Barros nos anos de 1998 e 2002" e que o suposto esquema é apurado em inquérito na Polícia Federal. O juiz determinou a abertura de dois inquéritos para apurar caixa dois do PSDB em Mato Grosso. Os dois não tem um bom relacionamento. Em depoimento à CPI dos Bingos, em fevereiro, o juiz e Antero discutiram sobre a investigação de caixa dois dos tucanos. No depoimento desta sexta-feira, o juiz questionou Arcanjo sobre contas bancárias na Suíça e se o "comendador" é dono de um hotel na Flórida. Arcanjo não respondeu a nenhuma pergunta.